Em depoimento a senadores da Comissão de Educação, o prefeito Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), confirmou que o pastor Arilton Moura pediu a ele a compra de bíblias e, posteriormente, o pagamento de propina para facilitar acesso a recursos do Ministério da Educação (MEC). Os pedidos foram revelados pelo GLOBO.
Ao lado do também pastor Gilmar Santos, Arilton é investigado pela Polícia Federal sob suspeita de intermediar a liberação de verba pública aos municípios. Os religiosos tinham acesso livre à cúpula da pasta.
Durante audiência no Senado, Kelton afirmou que antes de uma reunião em Brasília no dia 11 de março, quando recebeu pedido de propina, teve um encontro em Goiânia com os pastores. Nesta ocasião, Arilton Moura teria questionado quais as demandas do prefeito e dito que, em contrapartida, o prefeito poderia comprar bíblias para auxiliar na construção da sede de uma igreja.
"(Perguntei) qual o motivo de o senhor estar me chamando e oferecendo essa ajuda? Ele disse "não tem nenhum motivo específico. O pastor Gilmar está indicando você e você vai dar contribuição para igreja. Compra umas bíblias que ele está vendendo para construir a sede da igreja. Ajudando a igreja está bom demais"', narrou o prefeito.
"Até esse momento achei normal um pastor pedindo para ajudar na construção de igreja. Perguntei: "Quantas bíblias seriam?" E ele disse: "compra aí umas mil bíblias". Eu disse: "qual valor delas?". Aí ele disse: "é R$50", relatou Pinheiro, dizendo que negou a oferta:
"Então eu disse: 'não consigo dar uma oferta nesse valor, primeiro porque eu sou professor e estou prefeito. Mas uma oferta pessoal posso fazer, porque a prefeitura não pode adquirir bíblias para serem distribuídas, como vocês me sugeriram que eu distribuísse em igrejas evangélicas.'"
O prefeito afirmou que apesar da negativa, a reunião no MEC foi mantida.
Assim, dias depois Pinheiro recebeu um telefonema de uma pessoa chamada "Nely" perguntando se compareceria a encontro com Milton Ribeiro no dia 11 de março.
Na data marcada, após reunião no MEC com o ministro, o presidente do FNDE, Marcelo Ponte, e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, o prefeito foi a um almoço a um restaurante Tia Zélia. Na ocasião, Pinheiro confirmou que teria recebido pedido de propina por parte de Arilton Moura em troca de ter recursos liberados para a construção de escolas na sua cidade.
"(Arilton) me abordou de forma muito direta e disse: 'vi que seu ofício está pedindo a escola que deve custar R$ 7 milhões de recursos, mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje. Faz a transferência comigo hoje, porque isso não cola comigo, porque vocês políticos são um bando de malandro.'"
A participação de Nely Carneiro no esquema foi revelada pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Segundo a reportagem, embora não fosse funcionária do MEC, Nely falava em nome da pasta e participava de reuniões no ministério.
Mais cedo, o prefeito Gilberto Braga, de Luís Domingues, também confirmou ao senadores que teria recebido pedido de pagamento de propina em ouro.
"O pastor estava sentado na mesa na hora da palestra no MEC e em seguida fomos para esse almoço. Lá nesse almoço, que não estava o ministro, só os dois pastores, tinha uma faixa de 20 a 30 prefeitos e a conversa era muito bem aberta", contou.
Braga disse que Arilton perguntou para ele sobre suas demandas. "Eu apresentei minhas demandas para ele, e ele falou rapidamente: "Você vai me arrumar os R$ 15 mil para eu protocolar as suas demandas e depois que o recurso estiver empenhado, como a sua região é de mineração, você vai me trazer 1 quilo de ouro". Eu não disse nem que sim nem que não, me afastei da mesa e fui almoçar."
Inicialmente, nove prefeitos foram convidados para detalhar as denúncias aos senadores, mas apenas cinco confirmaram presença: Kelton Pinheiro, prefeito de Bonfinópolis (GO); José Manoel de Souza, prefeito de Boa Esperança do Sul (SP); Gilberto Braga, prefeito de Luís Domingues (MA); José Manoel de Souza, prefeito de Boa Esperança Do Sul (SP); e Helder Aragão, prefeito de Anajatuba (MA).
Os prefeitos Júnior Garimpeiro, de Centro Novo (MA); Marlene Miranda, Bom Lugar (MA); Nilson Caffer, Guarani D'oeste (SP); e Reinaldo Vilela Paranaíba Filho, de Três Corações (MG).
Abertura de CPI
Os senadores estão desde a manhã desta terça-feira tentando contato com os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos para solicitar o comparecimento na sessão de quinta-feira da Comissão. O presidente do FNDE, Marcelo Ponte, também será convidado.
Na semana passada, a ausência do ex-ministro Milton Ribeiro irritou os senadores. A partir daí os parlamentares manifestaram a possibilidade de abertura de uma CPI para apurar o caso. O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) protocolou um pedido para abertura da comissão. Até o momento, ele já obteve 14 assinaturas favoráveis. São necessárias 27 para abrir a CPI.
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