Maria Julia Quirino, de 15 anos, sofreu discriminação em escola em Rio Claro, no interior de São Paulo
Reprodução 24/03/2022
Maria Julia Quirino, de 15 anos, sofreu discriminação em escola em Rio Claro, no interior de São Paulo

A vice-diretora da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, em Rio Claro, interior de São Paulo, pediu descontinuidade da função após alunos divulgarem áudios em que ela fala que atos racistas cometidos por dois estudantes contra uma aluna negra não passava de “conversinha, mimimi e briguinha de meninas”. Em termos técnicos administrativos, a servidora, identificada como Simone Erbetta, optou pela cessação voluntária da função, até que seja concluído o processo de apuração preliminar do caso. A informação foi confirmada pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) nesta quarta-feira.

Segundo a pasta, o desligamento definitivo ou a permanência de Simone no cargo de professora só será definida após a investigação do caso. A Seduc informou ainda que os dois alunos que praticaram atos racistas contra a estudante Maria Júlia Quirino, de 15 anos, foram transferidos para outra unidade escolar.

Uma das ofensas a Maria Júlia foi feita na última quarta-feira (16), dia do aniversário da jovem, que cursa o primeiro ano do ensino médio na instituição. Enquanto relatava a uma amiga que estava desanimada, um estudante disse que era por ela ser preta, e sugeriu que fosse trabalhar “na plantação de algodão” e “voltasse para a senzala”.

No dia seguinte, uma outra aluna disse em sala de aula que “não gostava de preto”, frase que, segundo Maria Júlia, era repetida diariamente pela menina. Posteriormente, a adolescente assumiu em mensagem a um amigo que “fez uma menina negra chorar por racismo e agora as negrinhas da sala estavam revoltadas”.

"Quando a outra menina disse que não tolerava preto na sala, fiquei muito ofendida, comecei a chorar e fui falar com um professor, que me disse para fazer uma denúncia na diretoria", disse Maria Júlia ao GLOBO, que não sente vontade de ir à escola depois do ocorrido.

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Depois de oficializar a reclamação na diretoria, a vítima disse que o caso começou a se espalhar pelo colégio, o que deixou alguns alunos revoltados. Ao saber da repercussão, a vice-diretora decidiu conversar com os estudantes. Em áudios obtidos pelo O GLOBO, é possível ouvir a funcionária dizer que não toleraria interferência na apuração do episódio, que classificou como “conversinha, mimimi e briguinha de meninas”.

A reportagem procurou Simone para comentar o caso, mas ainda não obteve resposta.

Na última sexta-feira à noite, os responsáveis por Maria Júlia e a jovem realizaram um boletim de ocorrência na Delegacia Seccional de Polícia de Rio Claro, que registrou o caso como injúria racial. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o caso é investigado e que o depoimento da vítima está agendado. As diligências seguem para identificar os envolvidos.

De acordo com a Seduc, foram elaboradas estratégias para atividades pedagógicas antirracistas voltadas para todos os alunos da escola na última semana. O Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) está à disposição para o atendimento de demandas de todos os estudantes e da equipe de profissionais da unidade para oferecer atendimento psicológico.

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