Chuvas em Petrópolis (RJ)
Reprodução / CNN Brasil
Chuvas em Petrópolis (RJ)

chuva deve continuar a castigar Petrópolis e o restante da Serra Fluminense até pelo menos a próxima terça-feira, alerta o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A situação é crítica e o terreno está tão instável , que podem ocorrer novos desmoronamentos mesmo sem chuva, adverte ele.

Entrevista com o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Cemaden

O quão extrema foi a chuva de terça-feira em Petrópolis?

Foi a pior registrada em Petrópolis. Chover 260 milímetros em três horas é um evento altamente crítico, extremo. Choveu localmente até mais do que na tragédia de 2011. As medições oficiais de 2011 não chegam a 200 milímetros. A gente especula, baseado em imagens de radar, que pode ter chegado a 300. Mas o dado medido oficial é 186 mm em 24 horas. Tivemos 260 mm em três horas. Isso é uma situação terrível. Mas toda a Serra Fluminense, o Sul do Espírito Santo, a Zona da Mata mineira estão no caminho das águas. Vai chover todos os dias e quando você tem um volume muito alto acumulado, tem muito perigo.

O que provocou a tragédia de Petrópolis?

Uma combinação de fatores, muito parecida com a de 2011. Temos uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que é um canal de umidade estacionado na região. Isso tem feito chover muito na região durante todo esse verão. Somada a isso há a própria presença da Serra (as montanhas concentram as chuvas), combinada à aproximação de uma frente fraca no oceano. Mas um fator fez grande diferença.

Qual?

O núcleo de chuva intensa se formou sobre Petrópolis . Ela surgiu e explodiu ali. Temos conversado diariamente há mais de uma semana com a Defesa Civil do Rio de Janeiro. Há vários dias vemos a possibilidade de pancadas fortes entre Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. Mas eventos localizados assim são altamente instáveis e imprevisíveis no curto prazo.

A chuva surpreendeu?

A chuva forte não surpreendeu, e sim o volume. Podemos dizer que vai chover muito, mas não precisamente quanto, muito localizadamente. Uma  chuva de 260 milímetros em três horas é de uma barbaridade tão grande e se forma tão explosivamente que escapa a qualquer modelo. Então a população e as autoridades precisam estar alertas, se prepararem, porque elas são um risco real.

Qual a previsão?

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A situação é muito crítica na Região Serrana, principalmente em Petrópolis, pelo volume que já caiu. O solo está tão instável que podem ocorrer deslizamentos mesmo sem chover. Mas há previsão de novas chuvas pelo menos até a próxima terça-feira em toda a Serra porque a frente fria realimentou a ZCAS.

A chuva pode piorar?

Choveu muito em toda a Região Serrana nos últimos dias e a partir desta quinta-feira, a chuva pode até ficar mais intensa. Não digo que vai se repetir o que aconteceu em Petrópolis, que tem uma recorrência estimada de dez anos. A chuva de ontem foi até mais forte do que a de 2011. Foi uma barbaridade.

Quantas pessoas temos em risco neste momento?

Com base no Censo de 2010 e, portanto, o número pode ser bem maior há 174 mil pessoas em áreas de risco na Região Serrana. Mas um terço delas, ou cerca de 50 mil pessoas, estão numa zona de extremo risco, a pior condição de vulnerabilidade. Isso é gravíssimo.


Em 2011 se dizia que esses eventos ocorriam uma vez a cada 500 anos, o quão frequentes se tornaram?

Particularmente, não gosto dessas comparações, têm pouca base em registros. Temos um padrão de um extremo a cerca de cada dez anos, mas isso pode ficar ainda mais frequente. Veja que não se trata de uma vez a cada dez anos no país, mas na mesmíssima região. E tivemos chuvas extremas em três meses na Bahia, em Minas Gerais e agora no Rio de Janeiro. Isso é muito grave.

É um padrão de mudança climática?

Se você juntar as peças dessas tragédias, sim, há um padrão de extremos, como os associados a mudanças climáticas.

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