O presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Paulo Azi (DEM), admite que o caso do deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA), flagrado pela Polícia Federal com maços de dinheiro nas mãos, poderá começar a ser analisado pelo colegiado apenas no ano que vem. O recesso parlamentar começa no dia 23.
Azi afirmou ao GLOBO que a representação contra Maranhãozinho (PL), protocolada pela Rede na semana passada, está na Mesa Diretora da Câmara, ou seja, sequer chegou ao Conselho. Por conta disso, o parlamentar não garantiu que o relator seja escolhido antes das férias coletivas.
"Escolha do relator vai depender de quando chega lá, para ver se vai dar tempo da gente avançar. Não existe regimentalmente urgência nesse e em nenhum outro caso. Nós temos nossos prazos regimentais que ditam o andamento do processo", alegou o deputado.
Só após a avaliação da Mesa Diretora, o conselho receberá a representação e poderá instaurar o processo para fazer o sorteio de quem será o relator.
A Rede protocolou no Conselho de Ética da Câmara uma representação contra Maranhãozinho no dia 3 de dezembro.
Embora haja vídeos de Maranhãozinho com dinheiro vivo nas mãos, como presidente do conselho, Azi evita opinar sobre o caso. Ele se limita a dizer que, segundo "conversas informais", o "assunto é sério".
"As conversas informais entre colegas dizem que efetivamente o assunto é sério e precisa ser devidamente esclarecido para que isso não fique parecendo que, tendo existido, é uma prática que pode ser enxergada pela população como uma prática conjunta. Essas conclusões só poderão ser tomadas pela investigação dentro do processo", finalizou.
Maranhãozinho é presidente estadual do PL. partido o qual o Bolsonaro filiou-se na última semana. A legenda é comandada por Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do Mensalão.
Entenda o caso
Imagens gravadas pela Polícia Federal (PF) flagraram o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) carregando caixas com maços de dinheiro em seu escritório, em São Luís (MA). A PF desconfia que o dinheiro manuseado pelo deputado seria proveniente de um esquema de desvio de emendas parlamentares por meio de prefeituras do Maranhão, que contratariam empresas ligadas ao parlamentar para desviar os recursos.
A polícia instalou câmeras e equipamentos de escuta no escritório do deputado para fazer o monitoramento em 2020. Nas escutas, os investigadores captaram diálogos sobre entregas de dinheiro. No vídeo, o próprio parlamentar afirma que a caixa continha R$ 250 mil.
A ação realizada pela PF faz parte de uma investigação sigilosa envolvendo Maranhãozinho por suspeita dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitação. A operação foi autorizada pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), em outubro do ano passado e faz parte da Operação Descalabro.
Maranhãozinho nega qualquer irregularidade e afirma que a imagem retrata a sua atividade empresarial na pecuária “com compra e venda de gado e equipamentos com órgãos privado”.
Em abril de 2020, Maranhãozinho alocou R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinadas à área da saúde para diversas prefeituras do Maranhão. Alguns dos municípios beneficiados contrataram, inclusive com dispensa de licitação, empresas que, segundo a PF, possuem vínculos com o parlamentar, como a Aguia Farma, a Medshop e Atos Engenharia. Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de combate à lavagem de dinheiro, identificaram “vultuosos saques” nas contas dessas firmas.