Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em depoimento na CPI da Covid
Divulgação/Agência Senado/Jefferson Rudy
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em depoimento na CPI da Covid

Nesta quinta-feira (27), o presidente do Instituto Butantan , Dimas Covas, afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid que o governo federal não estimulou a produção da CoronaVac , feita pelo Instituto Butantan, em São Paulo.

"A vacina não teve apoio na hora que foi solicitado, isso poderia ter dado uma velocidade maior no desenvolvimento. Poderíamos ter um quantitativo maior de vacinas disponíveis no Brasil", revela Dimas Covas ao senador Jean Paul Prates (PT-RN).

O diretor citou também um "tratamento diferente" do governo federal com o Butantan e à Fiocruz em relação aos imunizantes contra a Covid-19:

"A AstraZeneca foi contratada em agosto e no mesmo patamar: não existiam informações em relação às vacinas. Então, os tratamentos ocorreram de forma diferente: uma foi contratada e recebeu os recursos. Nós pedimos a contratação nos mesmos moldes, inclusive, com fornecimento de recursos para apoio aos estudos clínicos e reforma", disse Covas ao senador Marcos Rogério (DEM-RO).

"Existem duas formas de entender a vacina: uma, com o contratado por medida provisória, e outra vacina, com outro instituto tão importante, que não foi feito na mesma oportunidade", acrescentou. 

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Na ocasião, o diretor do Instituto também disse que a negociação das vacinas com o Ministério da Saúde travou por três meses após a declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que o governo federal não compraria a "vacina da China".

“Todas as negociações que ocorriam com o  Ministério [da Saúde] foram suspensas após declarações de Bolsonaro de que não compraria a vacina do Butantan e, de fato, só foram concretizadas em 7 de janeiro”, disse Covas após assistir a um vídeo em que Bolsonaro aparece falando que não compraria as vacinas da China. O vídeo foi passado a pedido do relator da CPI , Renan Calheiros (MDB-AL). 

Ainda segundo Covas, a interrupção na negociação com o Ministério da Saúde representou a falta de 60 milhões de vacinas, que poderiam ter sido entregues ao governo brasileiro até dezembro de 2020 . Caso o acordo tivesse sido fechado, Covas defende que o Butantan poderia ter entregue 100 milhões de doses da Coronavac até maio de 2021.

O diretor do Butantan alegou também que as  declarações anti-China de Bolsonaro e seus ministros dificultaram a importação de insumos para a fabricação da vacina. "Cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. Isso se reflete nas dificuldades burocráticas, antes resolvidas em 15 dias, agora mais de um mês", declarou.

Para Dimas Covas, o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinar contra a Covid-19 , mas só não o fez porque não havia um contrato com o Ministério da Saúde em 2020 .

"Em dezembro, estávamos com mais de 5 milhões de doses de vacinas prontas, estocadas no Butantan, e 4 milhões em processamento. O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro. No final do mês, o mundo tinha aplicado pouco mais de 4 milhões de doses. Mas nós [o Butantan] estávamos sem contrato com o Ministério da Saúde", afirmou.

O depoente explicou que o "único cliente" do Butantan sempre foi o Ministério da Saúde e que a falta de um contrato impôs dificuldades na produção de vacinas. "A inexistência de um contrato com o Ministério [da Saúde], o nosso único cliente colocava uma incerteza em relação ao financiamento [das vacinas]. E nós já tínhamos contratado parte importante do projeto com a Sinovac. O Governo de São Paulo deu todo o apoio, mas imediatamente outros estados também, 17 demonstraram intenção de aquisição do imunizante", declarou Covas.

Covas é o décimo depoente na comissão parlamentar de inquérito. O presidente do Butantan é ligado ao governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), desafeto do presidente Jair Bolsonaro.

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