Adriana Dutra, de branco, tentou impedir que a cena fosse gravada.
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Adriana Dutra, de branco, tentou impedir que a cena fosse gravada.

A Polícia Civil investiga se uma funcionária do Carrefour mentiu no depoimento sobre a morte de João Alberto Freitas, de 40 anos, que foi espancado por dois seguranças no estacionamento do supermercado na Zona Norte de Porto Alegre , na noite de quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra.

"O que nós observamos é que houve declarações contraditórias. Resta até o final do inquérito [saber] se essas contradições foram motivadas por algo que se queria encobrir ou não", afirmou a delegada Roberta Bertoldo, segundo o G1.

As principais contradições apuradas no depoimento de Adriana Alves Dutra , responsável pelos seguranças da loja, de acordo com a polícia, foram:

  • Ela disse que o PM temporário , Geovane Gaspar da Silva , era um cliente da loja; mas a apuração já constatou que ele era funcionário da empresa de segurança contratada pelo mercado.
  • Contou à polícia que João Alberto empurrou uma senhora dentro da loja
  • Falou que não ouviu a vítima pedir por ajuda; mas nas gravações, é possível ouvir os gritos de João por diversas vezes
  • Adriana diz que pediu várias vezes para que os seguranças largassem João Alberto; mas as imagens mostram apenas ela tentando impedir a gravação

Cronologia do depoimento

Adriana, a mulher que aparece de blusa branca nas imagens gravadas, disse à polícia que estava no setor de bazar quando foi chamada para atender uma situação de atrito entre um cliente e uma funcionária — que é fiscal de caixa e aparece vestida de preto nas imagens.

No depoimento, Adriana diz que um cliente, que ela soube ser policial militar, já tentava apaziguar a situação. Mas, na verdade, essa pessoa que Adriana chamou de cliente era o PM temporário Geovane Gaspar da Silva, segurança da Vector , contratada pelo Carrefour.

Adriana diz que João Alberto era uma pessoa agressiva e que já tinha entrado em atrito com os fiscais anteriormente. Quando era escoltado para fora da loja, Adriana diz que João empurrou uma senhora. Isto não aparece nas filmagens disponíveis até o momento.

Adriana ainda diz que a vítima deu um soco no policial, momento em que eles "se embolaram". Contou ainda que chamou a Brigada Militar e o Samu quando viu o sangue da vítima e que ele tinha desmaiado.

Ela relatou que João Alberto fazia xingamentos durante o momento em que ela chamou de "contenção" e que não ouviu a vítima pedir por ajuda . Nas gravações, é possível ouvir os gritos de João Alberto por diversas vezes.

Ainda no depoimento, Adriana diz que pediu várias vezes para que os rapazes largassem João Alberto, reforçando que Geovane era cliente, e não segurança . Nas gravações, não é possível ouvir isso. O que se ouve é diferente do que ela disse para a polícia.

"Se acalma pra gente poder te soltar, a Brigada tá chegando aí, tá bom? (...) A gente não vai te soltar. Pra ti bater em nós de novo?", é possível ouvir Adriana dizer na gravação. Quando ela percebe que a cena era gravada, tenta impedir. "Não faz isso, não faz isso que eu vou te queimar na loja".

A Polícia Civil informou que espera, nesta terça-feira (24), a autorização da Justiça para ouvir os dois seguranças que espancaram João Alberto até a morte.

Eles estão presos desde a noite do crime e a prisão em flagrante já foi convertida em preventiva. Geovane Gaspar da Silva, que é PM temporário, e Magno Braz Borges ficaram em silêncio no dia da prisão.

"Tão logo nós recebamos a autorização judicial, vamos dar acesso a eles ao sistema prisional, para que eles possam esclarecer essas declarações e junto a isso compará-las com aquilo que foi referido pelas próprias testemunhas que estavam no entorno e que também ouviram e viram todas as situações que passaram ali", explicou a delegada Roberta Bertoldo ao G1.

Investigações

O inquérito também apura o envolvimento de sete pessoas no crime. Além dos dois seguranças, Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, também serão investigados aqueles que cometeram crime de omissão de socorro . Todos estavam presentes na hora em que João Alberto foi morto, na última quinta-feira, mas seus nomes não foram divulgados pela polícia.

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Segundo a Rádio Guaíba, além de homicídio, a investigação também contempla as hipóteses de injúria racial, racismo e falso testemunho. Desde sexta-feira (20), mais de 20 testemunhas foram ouvidas.

" Racismo existe, discriminação existe, preconceito existe. Existe o racismo estrutural e o racismo no momento da ação. Temos imagens, mas não temos sons para ouvir o que foi conversado. Não descartamos nenhuma hipótese", afirmou Nadine Farias Alfor, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, ressaltando que o inquérito tem dez dias para ser concluído.

A delegada Roberta Bertoldo fala sobre as contradições de pessoas que prestaram depoimento :

"Inicialmente se apontou que João havia agredido fisicamente uma mulher no interior do estabelecimento, mas as câmeras de segurança mostraram que não houve essa agressão, que na verdade houve um certo mal entendido entre um gesto que ele teria feito a uma fiscal que decorre dessa situação, então inúmeras questões vêm sendo ditas, ou desditas, ou não comprovadas", explicou ao G1.

Outros vídeos do momento em que João Alberto foi morto sugerem que ele conhecia os seguranças do Carrefour .

Numa das imagens, Nego Beto, como era conhecido, imobilizado e respirando com dificuldades, aparece ofegante e gemendo no chão, quando um terceiro funcionário do supermercado se abaixa e diz: “A gente te avisou da outra vez” .

Em outro momento, o mesmo homem afirma: “Aí, rapaz, sem cena, tá?”. Os policiais identificaram que o homem é outro segurança da equipe do supermercado.

O depoimento de Adriana Alves Dutra corrobora a tese de que a vítima conhecia seus assassinos . Ela afirmou à polícia que ouviu de uma funcionária da loja que já havia presenciado “atrito com fiscais” e João Alberto. O autor das novas imagens não foi identificado.

Moradores do bairro IAPI, onde está situado o Carrefour, relatam um histórico de perseguição pelo corpo de segurança do estabelecimento .

"Esse é o procedimento padrão deles. Já presenciei situações de violência nesse supermercado. Depois que ocorre, eles trocam a guarda. Mas o procedimento é sempre o mesmo. Sofremos perseguição", afirma o líder comunitário Paulo Paquetá.

Uma testemunha disse, em depoimento obtido pela RBS, que avisou aos seguranças que havia “sinais visíveis de asfixia ”, mas que ambos o ignoraram, pedindo para que “não se intrometessem em seu trabalho”.

A testemunha, porém, alertou novamente os seguranças quando percebeu a  mudança da tonalidade da cor dos lábios e da extremidade dos dedos de João Alberto.

Nesse momento, de acordo com ela, os seguranças teriam ficado “desorientados” e perguntaram se alguém que assistia à cena sabia checar sinais vitais. Um senhor teria se aproximado e confirmado a morte da vítima. O Samu teria demorado cerca de uma hora para chegar ao local.

David Leal, advogado de Giovane Gaspar, informou ao G1 que "não foi o cliente que pressionou o João Alberto".

E segue: "Os socos e tapas não foram os que causaram a morte. Ele não foi responsável pela morte. Não é responsável pelo crime doloso . No máximo pode ser responsabilizado por lesão corporal. O João Alberto já veio com corte na boca de uma briga que teve no mesmo dia ou no dia anterior. Aquele sangue não foi resultado da agressão sofrida naquela noite. Meu cliente, o Giovane, falou com toda certeza que ele estava sob efeito de entorpecentes. O resultado morte não foi ele que causou porque não foi ele que pressionou o João Alberto", afirmou.

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