Um líder espiritual da Bahia é acusado de abusos sexuais e psicológicos por pelo menos 14 mulheres em Salvador. Jair Tércio Cunha Costa, de 63 anos, é ex-grão mestre de uma loja maçônica naquele estado e desenvolveu uma doutrina pedagógica que é estudada em retiros espirituais promovidos por ele próprio. O caso é investigado pelo Ministério Público da Bahia , e Jair Tércio nega as acusações. As informações foram veiculadas neste domingo em uma reportagem do “Fantástico”, da TV Globo.
A primeira vítima a denunciar os abusos diz que entrou para o que chama de “seita” maçom por intermédio de um namorado. Ela tinha 16 anos, e logo depois engravidou. Foi naquele momento que buscou o apoio de Jair Tércio.
“A partir daí eu perdi minha vida”, contou a vítima ao “Fantástico”. “Não pude escolher profissão, ele determinou que era pedagogia. Fui obrigada a trabalhar na escola que ele fundou, me afastei de minha mãe por ordem dele, tive que mudar celular, apagar e-mail e criar outro e-mail para que ninguém da minha vida tivesse contato comigo”.
Ela contou que ficou de 2002 a 2014 sob os abusos do líder da seita. Tércio, segundo a vítima, dizia que precisava fazer sexo com ela para equilibrar os chacras da jovem. “Me sentia péssima após os estupros. Chegava em casa e vomitava. E, com isso, eu me afastei mais ainda de todo mundo. Inclusive das pessoas da seita, porque ele fala que ninguém é confiável, que a gente só pode confiar nele.”
Os estupros, disse a vítima, duraram cinco anos. Ela contou ainda que sofria “terrorismo psicológico” e que Tércio a ameaçava de retaliação espiritual.
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“Ele nunca disse que faria algo contra quem saísse, mas que a espiritualidade resolveria. Dizia: “A espiritualidade vai te cobrar porque você teve a chance de viver perto de um iluminado e não aceitou”.
A investigação começou após as denúncias chegarem ao Projeto Justiceiras — movimento criado na pandemia que reúne mais de três mil voluntárias, entre advogadas, psicólogas e assistentes sociais — e à Ouvidoria das Mulheres, do Conselho Nacional do Ministério Público.
“São vítimas mulheres, e o que mais chama atenção é que esses abusos ocorrem por um longo período, fazendo com que elas entendam que aquilo faz parte de um ritual, de um tratamento”, disse ao “Fantástico” Gabriella Manssur, promotora de São Paulo e voluntária do Justiceiras.
O advogado de Tércio, Fabiano Pimentel, afirmou à TV Globo que seu cliente alega ter tido relações consensuais com essas mulheres. “Ele afirma que por ser um homem solteiro teve alguns relacionamentos amorosos, mas que em nenhum momento houve qualquer tipo de violência, seja psicológica ou física, a ensejar qualquer tipo de crime”.
A Grande Loja Maçônica da Bahia informou, em nota, que suspendeu os direitos maçônicos de Jair Tércio.