Os policiais investigados pelo homicídio do adolescente João Pedro Matos Pinto , de 14 anos, deram duas versões diferentes sobre tiros disparados do helicóptero em direção ao Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. No primeiro depoimento que prestaram, no dia do homicídio, os três agentes investigados omitiram que fizeram disparos da aeronave . Já no segundo relato, uma semana depois, eles afirmaram que atiraram um total de 29 vezes do helicóptero em direção ao solo.
Segundo a segunda versão apresentada pelos três policiais — lotados na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) —, os disparos do helicóptero foram feitos quando a equipe chegou ao Complexo do Salgueiro e foi atacada por criminosos armados. O agente que afirmou ter dado mais tiros da aeronave é o inspetor Mauro José Gonçalves, que apertou o gatilho 15 vezes antes do pouso.
Gonçalves afirmou, no seu relato, que alertou pelo aparelho de som da aeronave "a respeito do ataque em curso aos demais operadores, enquanto repelia à agressão sofrida, disparando contra os opositores". Os tiros feitos do alto foram citados nos depoimentos do piloto, do copiloto e do delegado que chefiava a Core na época, Sérgio Sahione — ele estava na aeronave, mas não atirou. Segundo os depoimentos, só fizeram disparos do alto os três agentes que estavam posicionados na direita da aeronave — que eram exatamente os mesmos que entraram na casa.
Todos os três agentes investigados afirmaram que invadiram a casa onde estavam João Pedro durante uma perseguição aos homens que haviam visto do helicóptero. Após a aeronave pousar, os três deram mais 35 tiros dentro do imóvel, segundo admitiram em seu segundo depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI). Também foi Gonçalves o agente que mais deu disparos dentro da casa: 16 tiros. Segundo investigadores, o tiro que matou João Pedro foi disparado de dentro do terreno da casa.
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Em seu segundo relato, Gonçalves também mudou a versão sobre a arma que usou para disparar dentro da casa onde o adolescente foi morto, como jornal Extra revelou no mês passado. No primeiro depoimento, ele alegou que só usou, no dia do crime, um fuzil de calibre 762. Já uma semana depois, disse que, na verdade, portou dois fuzis durante a operação: o de calibre 762, segundo a nova versão, foi usado no helicóptero; após o pouso, o agente disse ter usado um fuzil M16 de calibre 556, mais leve, que levava como "reserva".
Gonçalves alegou que cometeu um "erro" em seu primeiro depoimento, pois só portava seu fuzil "principal" na delegacia. O tiro que matou João Pedro foi disparado por um fuzil de calibre 556 — justamente a arma que o agente omitiu ter usado inicialmente. O projétil foi encontrado no corpo do adolescente no dia seguinte ao crime. A arma "reserva" só foi entregue para a perícia uma semana após o homicídio.
João Pedro foi morto durante operação das polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no dia 18 de maio. Os três agentes da Core investigados pelo crime foram afastados e, atualmente, só realizam atividades burocráticas. Além de Gonçalves, são alvos da investigação os também inspetores Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister. Os policiais foram convocados para prestar um terceiro depoimento, no Ministério Público, mas não compareceram.