![Vital do Rêgo, ministro do TCU, afirma em comitê que Brasil não tem modelo de estratégia contra pandemia Vital do Rêgo, ministro do TCU, afirma em comitê que Brasil não tem modelo de estratégia contra pandemia](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/dn/40/03/dn4003ur1vesr2yjkbahw220e.jpg)
O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou a emissão de um alerta ao governo em relação à falta de diretrizes estratégicas para combater a pandemia do novo coronavírus. Por unanimidade, o colegiado confirmou o relatório do ministro Vital do Rêgo no processo instaurado pelo TCU para acompanhar as ações da União na contenção da Covid-19. No texto, o ministro aponta que há falta de gerenciamento de risco e ausência de profissionais da área da saúde atuando para mitigar a disseminação da doença.
Após ler o voto, Vital do Rêgo afirmou que as recomendações do tribunal são um "desabafo e um alerta" em relação à condução da crise pelo governo federal.
"Não existe modelo de risco. Antes de cada projeto, tem que saber o risco de dar errado. Não vou ficar falando aqui da cloroquina quando dois meses depois todos estudos apontam o contrário . Tenho que falar dentro de um modelo de risco capaz de dizer: 'Preciso fazer lockdown aqui para achatar a curva acolá.' [No Brasil] Não existe modelo nenhum", criticou.
De acordo com Vital do Rêgo, cargos do ministério da Saúde não têm sido ocupados por pessoas com formação na área. O acórdão aprovado recomenda que o governo inclua como membros permanentes do Comitê de Crise, os presidentes do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), com direito a voz e a voto. O texto chama atenção também para necessidade de um plano de comunicação para divulgar as medidas em relação à doença.
Durante a leitura do voto, o ministro relatou que teve "profundas dificuldades" de acessar informações junto ao governo. Vital do Rêgo também criticou o fato de não ter um titular na pasta da Saúde. O relatório determina ainda que a Presidência divulgue dentro de 15 dias as atas de reunião do Comitê de Crise e do Centro de Coordenação de Operações do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 (CCOP).
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O ministro Benjamin Zymler também criticou a falta de transparência do Ministério da Saúde. Zymler é relator em um processo que analisa compras do governo para atender à emergência:
"Há um déficit de transparência muito evidente, com múltiplos portais que veiculam coisas distintas e que tornam a tarefa de controle muito complexa."
Já o ministro Bruno Dantas criticou o que chamou de "desinteligência federativa" e pediu que a União, estados e municípios articulem suas ações para combater o novo coronavírus.
"Reconheço o enorme esforço que a equipe tem feito, mas enquanto não houver ação harmônica do presidente da República e governadores de estado, vamos todos os dias abrir os jornais e ver o número que não para de crescer", analisou Dantas.
Ao votar a favor do relatório, o ministro Aroldo Cedraz manifestou preocupação com a disseminação da doença no país.
"Essa crise está nos mostrando todas as feridas abertas que temos no sistema de saúde no Brasil principalmente na política sanitária", disse ele. "A situação é tão fora do controle que não conseguimos ver o início do achatamento dessa curva."
Na opinião do ministro Augusto Nardes, o cenário observado na condução da crise é uma reprodução do que ocorre em todas as áreas do país em decorrência da falta de governança que, segundo ele, não está restrita a esse governo.
"O voto do ministro Vital do Rêgo é muito importante porque ele está vendo as consequências da falta de política global de governança no país. Essa é maior preocupação que eu tenho. Não há sincronização entre estados, municípios e União, especialmente na Saúde", criticou Nardes.