Comunidades do Rio com comércio e ambulantes funcionando
Guito Moreto / Agência O Globo
Comunidades do Rio com comércio e ambulantes funcionando


Uma pesquisa feita pela prefeitura do Rio, em parceria com o Ibope, deu um novo panorama sobre a situação da pandemia na capital, especialmente nas comunidades mais adensadas . Entre as localidades escolhidas pelo grupo de trabalho, a Cidade de Deus se destaca, com 28% de positivos entre os testados, seguida por Rio das Pedras (25%), Rocinha (23%) e Maré (19%).


Além das quatro comunidades, também foram testados moradores de Realengo e Campo Grande, ambos na Zona Oeste do Rio. No primeiro bairro, o grupo de pesquisadores encontrou 9% de infectados, e no segundo, a contaminação foi de 5%.

Os dois bairros, no entanto, apresentaram taxa de letalidade maior do que nas comunidades analisadas. Em Campo Grande, a relação entre os positivos projetados a partir da pesquisa e os óbitos notificados é de 1,8% e em Realengo, 1,2%. Na Cidade de Deus, a taxa é de 0,4%, seguida por Rocinha e Maré, com 0,3% cada. Em Rio das Pedras, a doença se mostrou letal em 0,2% dos casos.

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De acordo com o superintendente de Educação da Vigilância Sanitária, Flávio Graça, as localidades foram escolhidas por conta de fatores de adensamento populacional e vulnerabilidade social, e as pessoas testadas foram escolhidas aleatoriamente.

"Foram amostras aleatórias, uma metodologia que nos desse a maior imparcialidade possível nos resultados, para obtermos retrato e uma estimativa do que acontece em todas as comunidades avaliadas. Sorteamos regiões, áreas, blocos, casas, e dentro das casas, a pessoa que seria avaliada", explicou Graça.

A projeção do governo municipal tomou por base 3,2 mil testes rápidos. Os resultados fazem parte da primeira de cinco fases da pesquisa. A segunda etapa deve ser realizada no início de julho.

Mais da metade é assintomática

Em números absolutos, 556 moradores testaram positivo nas localidades analisadas pela pesquisa. Mais da metade, 52%, não apresentaram sintomas do novo coronavírus, e 16% apresentaram apenas um dos sintomas, como febre, cansaço, dor no corpo, dor na garganta, dispnéia (dificuldade para respirar) ou diarréia.

A partir dos percentuais de testes positivos encontrados no trabalho, o governo municipal fez uma projeção de casos em cada localidade. Dessa forma, Rio das Pedras teria cerca de 39,8 mil casos, enquanto a Maré contabilizaria 24,4 mil, e a Rocinha, 16 mil registros da Covid-19.

"O número de pessoas analisadas e a metodologia usada nos permite fazer essa estimativa. Os dados obtidos no momento são um retrato. A partir do momento que tivermos os dados da próxima etapa, teremos um filme, dados cada vez mais fidedignos", explicou o superintendente de Educação da Vigilância Sanitária.

Alerta para flexibilização

Na avaliação da professora de epidemiologia da Uerj e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo, ainda que parciais, os dados apresentados pelo governo municipal mostram que a epidemia chegou em momentos distintos em cada bairro ou comunidade, e servem de alerta para o afrouxamento das regras de distanciamento social.

"Esses dados são parciais e não são suficientes para se desenhar nenhuma medida. Não temos um quadro do município, apenas de algumas localidades. Os números mostram que a epidemia entrou nessas comunidades em momentos diferentes, e é um sinal de que ainda não temos condições de relaxar medidas. Ainda precisamos cuidar das medidas de isolamento", pondera.

Os dados ainda não podem garantir que seja seguro abrir mão do isolamento. Teríamos que olhar mais, com mais profundidade. Não temos um quadro do município, apenas de algumas localidades.

A epidemiologista aponta ainda que, por conta da intensa interdependência econômica e social da capital fluminense com outros municípios da Região Metropolitana, é importante ter um panorama das cidades vizinhas.

"Não temos um quadro dos outros municípios. Falta articulação para entendermos como funciona o comportamento nao somente no município, mas no entorno."

Velocidade de contágio

Um estudo divulgado no começo do mês pela Universidade de Pelotas (Ufpel), o Epicovid19-BR, mostrou que a doença se dissemina com rapidez em todo o Brasil, mas no caso da cidade do Rio de Janeiro, a velocidade é muito mais alta.

Em duas semanas — entre maio e junho — o aumento no número de casos foi de 53% no país. No mesmo período, o número de cariocas que tinham a presença de anticorpos saltou de 2,2% pra 7,5%.

"Se no Brasil o aumento foi de 53%, no Rio foi de mais de 300%. São Paulo não acelerou desse jeito. Estamos falando da segunda cidade mais populosa do Brasil", afirmou o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da Ufpel e coordenador da pesquisa.

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