Nem parecia uma cidade no início de um processo de reabertura, com 5.832 mortos pelo novo coronavírus (Sars-coV-2), mais que o triplo de Portugal ou cinco vezes o total da Argentina. O primeiro domingo do inverno foi de sol no Rio, com praias cheias do Leme a Grumari, chope, picanha e fritas servidos em mesas de restaurantes da Avenida Atlântica e áreas de lazer tomadas por famílias inteiras sem máscaras. Um descontrole que ocorre no momento em que o município volta a ter aumento no número de casos notificados da Covid-19 .

O prefeito Marcelo Crivella durante coletiva de imprensa
Hermes de Paula / Agência O Globo
O prefeito Marcelo Crivella durante coletiva de imprensa

Foram 8.718 novas confirmações de Covid-19 do dia 14 até o sábado dia 20, a maior quantidade das últimas quatro semanas. Para especialistas, isso soa como um alerta dos efeitos das recentes flexibilizações do isolamento social , com regras flagrantemente desrespeitadas. 

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O estado chegou neste domingo, dia 21, ao patamar de 96.133 casos (50.430 só na capital) e 8.875 óbitos. Quanto à cidade do Rio, o aumento nos registros da doença na semana passada foi de 52,7% em relação à anterior, quando 5.708 testes positivos foram notificados, de acordo com dados dos boletins divulgados diariamente pelas secretarias municipal e estadual de Saúde.

"Calculando os dias de incubação do vírus, o tempo para aparecerem os sintomas e o intervalo até a pessoa procurar uma unidade de saúde e fazer os exames, podemos concluir que esses casos são um reflexo da contaminação no começo de junho, durante a primeira fase de relaxamento das restrições. Os reflexos do que vimos neste fim de semana nas ruas vamos notar dentro de 15 dias, como ocorreu no interior de São Paulo e no Sul do país", adverte Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio.

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Durante toda a pandemia , o número de notificações da terceira semana de junho só não foi maior que o de 17 a 23 de maio (8.748). A prefeitura, no entanto, argumenta que os resultados dos testes para detectar a doença levam, em média, de dez a 15 dias para serem processados. E que, portanto, boa parte dos casos divulgados nos últimos dias se refere a exames que aguardavam confirmação — depreende-se, então, que esses testes foram feitos justamente no período em que o Rio avançava em suas medidas de relaxamento do distanciamento social.

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, considerando a data do início dos sintomas do novo coronavírus , houve uma retração da doença na cidade entre os dias 14 e 20 deste mês. “O monitoramento diário mostra que o índice de variação de novos casos de Covid-19 teve uma redução de 0,6 para 0,4 no período”, informa o órgão, em nota.

Professor do Instituto de Medicina Social da Uerj, Mario Roberto Dal Poz critica a demora para a notificação dos registros de casos no Rio, o que, para ele, prejudica o acompanhamento da pandemia. O problema atinge também os dados sobre os óbitos. No estado e na cidade, destaca o médico,o atraso entre a ocorrência de uma morte e sua notificação é de, em média, nove dias.

"Precisávamos de um investimento maior no sistema de vigilância, como aplicativos para as notificações. No meio da África se usa isso com o ebola. Aqui, temos etapas de redigitação de casos, o que atrasa o processo e aumenta a possibilidade de erros", diz o especialista.

Há alguns dias, o prefeito Marcelo Crivella admitiu ontem estar preocupado com o a possibilidade de que a reabertura das atividades econômicas no Rio possa, de fato, provoque uma segunda onda de casos de Covid-19 . Caso este cenário se torne real, Crivella não descarta adiar o plano de flexibilização ou até retroceder etapas. Hoje, o Rio se encontra na segunda fase das seis previstas no processo. Entre as atividades já autorizadas até o momento, estão o funcionamento de shoppings (com um terço da capacidade), e de centros comerciais e áreas de lazer — incluindo as caminhadas no calçadão da orla.

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