O efeito do Covid-19 nas áreas mais pobres do Rio tem sido devastador. Um estudo feito em comunidades e periferias do estado revelou que 20% das pessoas infectadas pela Covid-19 nesses lugares morreram nas próprias residências. Desse grupo, 75% não procuraram ajuda médica. Os dados também indicam que 8,8% dos domicílios das favelas cariocas têm, ao menos, uma pessoa infectada. A pesquisa feita pela ONG Viva Rio, junto à MN Estatística, coletou dados entre os dias 9 e 16 de maio com base num cadastro de 32.037 famílias que recebem cestas básicas do projeto SOS Favela em 332 comunidades e 29 municípios.
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Até a noite de domingo (24), segundo o levantamento do portal Voz das Comunidades, favelas do Rio já contabilizavam 819 infectados, com 200 mortes. A Rocinha é a mais atingida, com 151 infectados e 51 óbitos.
Neste domingo, o Estado do Rio somava 37.912 casos, com 3.993 mortes pelo novo coronavírus — outras 990 ainda estavam sob investigação. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, de todas essas pessoas infectadas, 29.022 se recuperaram. Nesse último boletim, a capital fluminense concentrava 21.775 pacientes confirmados com Covid-19, sendo 2.755 óbitos.
De acordo com os dados a pesquisa da ONG Viva Rio, metade dos moradores de favelas e periferias do município do Rio e da Baixada vivenciaram a morte de pessoas próximas com suspeita de coronavírus, e 75,5% das pessoas que tiveram sintomas da doença não buscaram unidades de saúde. Os índices da pesquisa revelam que a maioria dos infectados tem entre 25 e 59 anos, pessoas que sustentam suas famílias e precisam trabalhar, não podendo cumprir com o isolamento social.
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"Os piores números das comunidades
estão na Zona Norte, formadas por pessoas que trabalham para a classe média que mora nas áreas que foram infectadas primeiro na cidade, Barra e Zona Sul, e que trouxe o vírus de fora do país. Quando a pandemia começar a diminuir nas cidades, ela vai aumentar nessas comunidades", diz o antropólogo Rubem César, que participou da pesquisa.
Segundo o levantamento, 40.700 famílias que vivem em favelas do Rio tiveram pelo menos um membro diagnosticado com coronavírus .
A relação entre a confirmação e a suspeita da doença na capital, há um disparate que deixa clara a subnotificação dos casos. Dos entrevistados da pesquisa, 4,5% responderam que foram diagnosticados positivo para Covid-19. Já quando perguntados se alguém de seu domicílio já teve sintomas, o índice vai para 39,2%.
O novo coronavírus ainda se mostra fraco no interior do estado, mas a Baixada Fluminense já vem se aproximando dos níveis da capital. A produtora de eventos Andreia Nanci, de 46 anos, mora no Éden, em São João de Meriti, e conta que quatro pessoas da família tiveram diagnóstico para Covid-19 confirmado, mas outros muitos parentes já apresentaram sintomas. Ela mesma, há cerca de um mês, começou a se sentir mal, com falta de paladar, dores de cabeça e no corpo, vômito, diarreia e alterações de pressão, mas não foi ao médico.
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"A minha filha de 26 anos foi ter bebê, e, no Hospital da Mãe, em Mesquita, ficamos sabendo que tinha uma ala com uma pessoa doente. Ela veio para casa e, três dias depois, sentiu sintomas. Já eu não fui ao médico, mas liguei para o 160, e a enfermeira me disse para ficar em casa que tudo passaria. Foi horrível. Cheguei até a achar que ia morrer e fiz um vídeo me despedindo da família", relata Andreia.