Um corretor de imóveis foi morto com um tiro de fuzil em 28 de abril, em Cordovil, na Zona Norte do Rio, após entregar uma cesta básica a um amigo que está passando por dificuldades em razão da pandemia de coronavírus. Leandro Rodrigues da Matta, de 40 anos, saiu de casa às 19h08, deixou os produtos no local às 19h36m, e foi baleado seis minutos depois, segundo o RJTV, da TV Globo.
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Na delegacia de Brás de Pina, onde o caso foi inicialmente registrado, o policial militar Bruno Bahia do Espírito Santo disse que atirou porque Leandro seria bandido. Mas a versão dele tem contradições.
"Tem muitas informações desencontradas. Uns falam que foi troca de tiros com a polícia. Mas que troca de tiros da polícia foi essa que só o meu marido foi alvejado?", disse a viúva de Leandro, Ana Paula, à TV Globo.
Leandro tinha dois filhos, e morava em Mesquita, na Baixada Fluminense. Era corretor de imóveis e trabalhava para uma empresa, onde coordenava 250 pessoas. Ele estava preocupado com os colegas em razão da queda nas vendas.
"Os corretores só ganham quando produzem. E o Leandro, com a grande preocupação dele, comprou várias cestas básicas, identificou os corretores que estava precisando e ele ia pessoalmente entregar as cesta básicas na casa dos corretores", disse Delmo Simões Filho, CEO da empresa, ao RJTV.
Contradição em depoimentos
No primeiro depoimento à polícia, o PM Bruno disse que por volta das 19h45 os agentes se depararam com um veículo na contramão, na Rua Barão de Melgaço. O motorista não obedeceu a ordem de parar e, então, um dos ocupantes desceu do veículo e atirou contra a viatura. Em seguida, o motorista do carro tentou fugir de ré e acabou batendo num muro.
Após a morte de Leandro, o caso passou a ser investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). O PM prestou um novo depoimento e entrou em contradição. Ele disse que um dos bandidos atirou de dentro do carro contra a viatura, enquanto o motorista tentava fugir. Bruno alegou ainda que fez um único disparo com seu fuzil, para se defender.
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Os policiais disseram que socorreram Leandro para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, também na Zona Norte, mas ele morreu após dar entrada na emergência. Eles também disseram que voltaram ao local do crime. Lá, moradores teriam dito que os bandidos que estavam no carro haviam fugido.
Equipes da DHC estiveram no local do crime para fazer uma perícia. Bandidos armados atacaram os agentes. Houve confronto e investigadores ficaram feridos. De acordo com a Polícia Civil, a região é dominada pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o "Peixão da Cidade Alta", que está foragido.
Na manhã desta quarta-feira equipes voltaram ao local do crime para tentar encontrar câmeras que possam ter registrado o que aconteceu. Uma perícia complementar será feita no carro de Leandro. O fuzil do PM Bruno foi apreendido e encaminhado para a perícia. O laudo cadavérico do IML que apontou que Leandro morreu com dois fragmentos de bala no pescoço.
OAB aponta mudança de versão
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) está acompanhando o caso. O procurador da comissão, Rodrigo Mondego, disse que os depoimentos apresentam muitas lacunas e aponta para a mudança de versão:
"Primeiro diz que a pessoa que atirou estava dentro do carro, depois diz que ela saiu do carro. E tem que ser respondido também quem são esses "populares" que disseram que tinham comparsas, supostos comparsas do Leandro, que teriam fugido do carro".
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Viúva exige respostas
Ana Paula foi chamada para prestar depoimento na DHC nesta quarta-feira, mais de uma semana depois do crime. Ela fez um desabafo:
"Eu preciso de justiça, eu preciso de resposta pra dar pros meus filhos de um homem que passava pros meus filhos que vale a pena fazer o bem. (...) Como é que eu falo hoje pra uma criança de 9 anos de idade que o pai saiu pra fazer o bem e não voltou e morreu dessa forma", disse, em entrevista ao RJTV.