Vista aérea da cidade de São Paulo; ao centro (na vertical), passando por baixo do Masp, a Avenida Nove de Julho
Governo do Estado de São Paulo/Divulgação
Vista aérea da cidade de São Paulo; ao centro (na vertical), passando por baixo do Masp, a Avenida Nove de Julho

Para quem nasceu e/ou cresceu em São Paulo, saber a origem do nome da Avenida Nove de Julho , via da região central, é quase uma obrigação. Mas, numa cidade com cerca de 50 mil logradouros e que continua em constante expansão (ganhando de duas a três ruas por dia), os paulistanos se acostumaram a conviver com nomes como "Teodoro Sampaio" e "Salim Farah Maluf" sem se questionar quem teriam sido aquelas pessoas.

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Manter viva a memória dos nomes, datas e eventos estampados nas placas de cor azul escuro que esbarramos a cada esquina de São Paulo é um dos propósitos do Dicionário de Ruas, projeto mantido pelo Arquivo Histórico Municipal.

De acordo com o diretor do Arquivo, Luís Soares, o Dicionário de Ruas  pretende também fortalecer os laços dos moradores com a própria cidade. "É importante trazer essa sensibilização para que o morador conheça a história local e descubra que a sua rua também tem uma história, e não apenas as vias tradicionais da cidade. Por trás de cada placa existe uma história. E quando você a conhece, você passa a ter um sentimento de pertencimento àquele lugar", diz.

Até o início do século 19, não havia placas para identificar os nomes das ruas da cidade, uma vez que São Paulo era muito pequena àquela época. Mas cada via já possuía um nome, ainda que informal, e que muitas vezes fazia referência a um morador importante daquele lugar ou a uma atividade comercial característica daquele endereço.

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O primeiro logradouro da cidade foi o Pátio do Colégio, onde São Paulo foi fundada em 25 de janeiro de 1554. A partir dali, a cidade começou a se expandir e surgiram vias como a Rua Boa Vista e a Rua Direita. 

Grande parte das ruas e avenidas que fazem parte do nosso dia a dia foram batizadas com nomes que homenageiam monarcas, empresários e famílias poderosas, tais como a Avenida Francisco Matarazzo (na Pompeia) e a Salim Farah Maluf (Tatuapé).

O diretor do Arquivo Histórico reconhece que os nomes das ruas de São Paulo não contam apenas a história da cidade nua e crua, mas também a história que os mais abastados querem que a população conheça, fazendo dos logradouros um instrumento de perpetuação de sua superioridade social.

Apesar disso, Luís Soares avalia que está em curso uma mudança nesse panorama. "Essa condição da homenagem aos mais poderosos não ocorre só em São Paulo. É uma coisa que acontece no mundo inteiro. Mas hoje, por exemplo, cerca de 70% das denominações homenageiam personalidades locais. São nomes de pessoas que tiveram uma história naquele bairro, quase sempre em ruas periféricas. Hoje em dia é uma tendência."

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Banco de nomes

Houve um momento da história recente da cidade em que o crescimento urbano desordenado levou a prefeitura a simplesmente desconhecer a existência de várias vias. Isso levou à convocação de especialistas e de universitários para criarem um banco de nomes, que era abastecido com um pouco de tudo: espécies de animais, datas importantes, personalidades da política, das artes, etc.

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Foi desse projeto que surgiram nomes curiosos, tais como o Rua Estilo Barroco (Brooklin) e o Borboletas Psicodélicas (Jabaquara). O banco é alimentado até hoje, o que inverteu a lógica da coisa: se antes havia várias ruas sem nome, hoje existem vários nomes aguardando o dia de virarem endereços. 

Estão nessa 'lista de espera' nomes como o da atriz Lílian Lemmertz (1937-1986), mãe da também atriz Júlia Lemmertz; o do cartunista Henfil (1944-1988); o do cantor e compositor Dorival Caymmi (1914-2008); e o do jornalista Alberto Tamer ( 1932-2013).

A maioria das informações que embasam os textos deste infográfico foi consultada no Dicionário de Ruas , projeto do Núcleo de Denominação de Logradouros Públicos do Arquivo Histórico Municipal.

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