Décio Geraldo dos Santos, prefeito de Barão de Cocais, diz que a cidade
João Paulo Saconi/Agência O Globo
Décio Geraldo dos Santos, prefeito de Barão de Cocais, diz que a cidade "está preparada para o pior" e "não aceita mortes"

A mãe do prefeito Décio Geraldo dos Santos (PV), de Barão de Cocais (MG), tem 79 anos. Ela mora em um dos nove bairros que têm calçadas sinalizadas com a cor laranja, locais em que os rejeitos de minério podem chegar caso a barragem da Vale na Mina de Gongo Soco se rompa, o que pode acontecer ainda nesta fim de semana .

A situação dela é a mesma de outras 32 mil pessoas de Barão de Cocais , que o filho, administrador municipal desde 2016, espera salvar através do protocolo de evacuação planejado diante de um grave cenário já visto anteriormente em Mariana e em Brumadinho, no mesmo estado.

"Nós fizemos a lição de casa. Já disse ao tenente coronel Flávio Godinho (da Defesa Civil de Minas, que também atuou em Brumadinho) que não aceito mortes no município. Estamos preparados para o pior, exatamente como deveríamos", garante Santos.

A ideia encampada pelo prefeito, junto à Vale e à Defesa Civil, é que todos deixem suas casas a pé, inclusive idosos, e corram em direção a um dos sete pontos de encontro espalhados pelas ruas cocaienses. A recomendação é que ninguém tente dirigir o próprio carro para fugir da lama, nem mesmo o principal nome do Executivo da cidade.

"Se a barragem se rompesse agora, enquanto estou no meu gabinete, eu sairia calmo daqui até um ponto de encontro, ciente de que poderia salvar a todos. Ligaria para todas as pessoas que preciso para manter todos em segurança, inclusive os acamados. E não usaria o meu carro, precisamos de todos a pé", explica o prefeito.

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A alternativa por não usar automóveis, acredita Santos, é o ideal até para a própria mãe. Ela precisaria percorrer pouco mais que 30 metros para conseguir ajuda, caso o pior aconteça. Na quarta-feira, uma senhora de 80 anos disse ao GLOBO que não imagina como conseguiria chegar até a rota de fuga para a qual foi designada.

"Minha mãe mora numa área que seria atingida pelos rejeitos, mas sabe que se andar 30 metros chega a um ponto de encontro. Eu moro em uma área mais alta, mas ela não. Ela participou dos simulados do protocolo de segurança e também está preparada", conta o prefeito, em referência às duas ocasiões em que a Vale promoveu a simulação de como a cidade deve se comportar em caso de rompimento .

"As pessoas estão assustadas"

Embora tente afastar qualquer cenário atual em que o caos seja retratado como um sentimento presente em Barão de Cocais, o prefeito admite que as pessoas estão assustadas desde fevereiro, quando as sirenes tocaram pela primeira vez e três povoados da área rural foram evacuados.

O drama que envolve o compasso de espera pelo possível acidente (a barragem Sul Superior está em risco máximo) tem tirado o sono de parte da população ouvida pelo administrador.

"Tem pessoas que estão realmente muito agoniadas. Se uma chave cai no chão e faz barulho, elas já ficam alertas. Estamos falando de algo muito grave, mesmo. Mas os bancos não precisam ter fechado as portas (desde segunda-feira), seguindo uma recomendação de Brasília. Não há necessidade disso agora", reclama Santos.

Outra principal crítica do prefeito é em relação à falta de apoio da Vale à gerência municipal. Ele acredita que falta apoio financeiro para as 400 pessoas que precisaram deixar as próprias casas, abandonando imóveis e pertences. O mesmo desalento é sentido no hospital municipal, onde os atendimentos, segundo Santos, têm aumentado.

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"É fato que não estamos sendo acolhidos da maneira que merecíamos. Pedi à Vale que dragasse o rio, eles têm máquinas para isso. Não fizeram. Também pedi apoio com o hospital: temos pessoas precisando de atendimento o tempo todo, por nervosismo. Essa ajuda ainda não veio. Temos comunicação direta com o setor de Relações Institucionais da mineradora, mas a eficácia é pouca", lamenta o prefeito de  Barão de Cocais.

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