Equipes trabalham nas buscas por vítimas do rompimento de barragem em Brumadinho
Divulgação/Prefeitura de Brumadinho
Equipes trabalham nas buscas por vítimas do rompimento de barragem em Brumadinho

As buscas por vítimas da tragédia de Brumadinho (MG) entraram neste domingo (3) no décimo dia . As causas do rompimento da barragem da Vale que integra a Mina do Feijão estão sendo investigadas. Da mesma forma, a extensão dos danos ambientais e socioeconômicos ainda é desconhecida, embora já estejam em curso iniciativas voltadas para identificar os prejuízos e alguns dados preliminares já tenham sido divulgados.

A tragédia de Brumadinho já é mais de seis vezes pior, em número de fatalidades, que a ocorrida com outra barragem em Mariana, há três anos. Até o momento, conforme o último balanço divulgado pela Defesa Civil de Minas Gerais, foram contabilizadas 121 mortes e ainda há 205 pessoas desaparecidas – grande parte são empregados da Vale.

Os rejeitos da barragem soterraram um refeitório e também uma área administrativa da mineradora. Os trabalhos de busca não têm data para acabar e são coordenados pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, mas as chances de encontrar sobreviventes vão se reduzindo a cada dia. Na primeira semana de buscas, uma  equipe de 136 militares israelenses ajudou na operação de resgates, que também conta com bombeiros de outros estados e, a partir deste domingo, passa a ter ainda o apoio da Força Nacional.

Parte da comunidade da Vila Ferteco foi devastada pelo mar de lama tóxica. Ainda não se sabe quantas famílias viviam na comunidade. Também ficaram destruídos imóveis localizados em áreas ribeirinhas às margens do Rio Paraopeba , para onde os rejeitos escoaram. Os últimos números apontam para 132 pessoas desabrigadas por conta da tragédia. Muitos deles foram acomodados em pousadas e hotéis em locais próximos, como em Casa Branca, um povoado rural de Brumadinho e conhecido por suas cachoeiras e atrações ecológicas.

Localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, Brumadinho tem cerca de 36 mil habitantes e está a apenas de 60 quilômetros da capital mineira. No município, está situado o Instituto Inhotim, sede de um grande acervo de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina. Por precaução e segurança, no dia do rompimento, os visitantes foram retirados local. 

Investigações sobre a tragédia em Brumadinho

A Polícia Civil de Minas Gerais e a Polícia Federal investigam as causas do rompimento da barragem da Vale. Uma força-tarefa também foi criada pelo Ministério Público Federal (MPF). 

Na última terça-feira (29), três funcionários da Vale envolvidos no licenciamento da barragem e dois engenheiros terceirizados que atestaram a estabilidade da estrutura foram presos . A juíza federal Perla Saliba Brito considerou que a medida era “imprescindível” para as investigações.

A barragem foi construída em 1976 pela Ferteco Mineração, empresa adquirida pela Vale em 2001. Segundo a mineradora, desde 2015 a estrutura não recebia mais rejeitos, estando em processo de descomissionamento (encerramento de atividades). Já se sabe que um laudo emitido pela empresa alemã Tüv Süd em setembro do ano passado atestava a estabilidade da barragem.

As licenças ambientais estavam em dia, segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Minas Gerais (Semad). O órgão informa que, em dezembro do ano passado, o Conselho Estadual de Politica Ambiental (Copam) autorizou a licença para descomissionamento da barragem por 10 votos favoráveis, uma abstenção e um voto contrário. O Copam é um órgão colegiado composto por representantes do Poder Público, do setor produtivo e da sociedade civil.

De acordo com a Semad, o Copam seguiu os ritos e procedimentos vigentes. Por sua vez, a Agência Nacional de Mineração (ANM), a quem compete a fiscalização do setor, informou que as declarações da Vale no seu Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM) não revelava "indícios de problemas relacionados à segurança da estrutura”.

Impactos ambientais causados pela lama

Nem a mineradora e nem órgãos ambientais divulgaram até o momento estimativas do volume de lama que vazou e escoou para o Rio Paraopeba. A barragem tinha capacidade aproximada de 12 milhões de metros cúbicos. Não há informações se ela estava operando no limite. Segundo dados preliminares do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foram devastados 133,27 hectares de vegetação nativa de Mata Atlântica e 70,65 hectares de áreas de proteção permanente ao longo de cursos d'água.

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, está monitorando o avanço da turbidez da água no rio. Os últimos boletins têm revelado um deslocamento lento da pluma formada pela mistura de rejeito e água. Os rejeitos já percorreram mais de 98 quilômetros desde a barragem. A chegada da pluma à represa onde fica a Usina Hidrelétrica de Três Marias (MG) está descartada. É nessa represa que o Rio Paraopeba se encontra com o Rio São Francisco.

Já foi constatado que  está imprópria para consumo a água do Rio Paraopeba , mas as autoridades mineiras asseguram que a situação não põe em risco o abastecimento de água potável nem na cidade afetada pela tragédia e nem à região metropolitana de Belo Horizonte. 

Isso porque o abastecimento de água na cidade não depende da captação nesse rio, mas sim da captação no Córrego Águas Claras. Já para as demais cidades da região, a entrega de água potável é feita pelo Sistema Integrado Metropolitano. 

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) destacou técnicos para realizarem coleta de 44 amostras de água na região atingida com o objetivo de identificar os possíveis riscos de intoxicação. Resultados preliminares mostra os riscos à saúde humana e animal. 

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Penalidades à Vale

Presidente da Vale, Fabio Schvartsman, durante entrevista coletiva, sobre rompimento de barragem em Brumadinho
Valter Campanato/Agência Brasil - 29.1.19
Presidente da Vale, Fabio Schvartsman, durante entrevista coletiva, sobre rompimento de barragem em Brumadinho

A Vale foi multada em R$ 99 milhões pelo governo de Minas e em R$ 250 milhões pelo Ibama. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 11 bilhões nas contas da mineradora, com o intuito de assegurar a reparação dos danos. O Ministério Público do Trabalho em Minas Gerais (MPT-MG) também conseguiu bloquear outros R$ 800 milhões parar o pagamento de indenizações trabalhistas. Ao todo, a Vale está impossibilitada de movimentar R$ 12,6 bilhões .

Acionistas da empresa que se sentiram enganados quanto aos informes sobre a segurança das operações da Vale entraram com ações coletivas contra a companhia em escritórios nos Estados Unidos. Podem aderir à ação todos aqueles que compraram ações da mineradora brasileira entre 13 de abril de 2018 a 28 de janeiro deste ano.

Após a tragédia, as ações da Vale chegaram a cair 24,52%, mas nos últimos dias, começaram a subir lentamente. A empresa anunciou que o Conselho de Administração suspendeu o pagamento de dividendos e juros aos acionistas.

O que a Vale já anunciou que fará em Brumadinho

Equipes de resgate em Brumadinho em Minas Gerais
Ricardo Stuckert / Fotos Públicas
Equipes de resgate em Brumadinho em Minas Gerais

Um dia após a tragédia, o governo mineiro determinou a suspensão de todas as atividades da Vale na área barragem que se rompeu. A Justiça mineira também  proibiu a concessão ou renovação de licenças ambientais para novas barragens de contenção de rejeitos que utilizam o método de alteamento a montante, o mesmo método utilizado em Brumadinho e em Mariana. A Vale também afirmou que irá fechar 10 dessas estruturas.

Os beneficiários do Bolsa Família foram autorizados a fazer o saque antecipado e os trabalhadores poderão retirar até R$ 6.220 do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A Caixa e o Banco do Brasil criaram contas para receber doações financeiras.

A Vale, por sua vez,  anunciou uma doação emergencial de R$ 100 mil para todas as famílias que perderam parentes, R$50 mil para aquelas que tinha imóvel na área afetada e R$ 15 mil para trabalhadores do comércio local. Os valores são cumulativos, de forma que uma mesma pessoa poderá receber R$165 mil caso se encaixe em todas as situações. A Vale também pagou assistência e um auxílio-funeral para os parentes das vítimas. 

Ao município de Brumadinho, foi  assegurado o repasse de R$ 80 milhões como forma de compensar a perda de arrecadação com a paralisação das atividades da empresa. Segundo a Vale, as doações não têm relação com eventuais indenizações.

A companhia também se comprometeu a  eliminar todas suas barragens  que foram construídas pelo método de alteamento a montante, o que custará cerca de R$ 5 bilhões e impactará em cerca de 10% da produção anual de minério de ferro da empresa. 


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