Após a chegada da Força Nacional para tentar conter a onda de violência no Ceará, mais de 53 detenções já foram realizadas pelas equipes de segurança, o que praticamente dobrou o número de suspeitos presos pelos ataques que ocorrem no estado desde a noite de quarta-feira (2). No total, segundo a Secretaria de Segurança do Ceará já são 110 detidos.
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No entanto, o número de ataques também não para de crescer: já há registros oficiais de mais de 90 ações criminosas que vão desde ataques a prédios públicos e agências bancárias, passando pela explosão de bombas em vias públicas até a queima de ônibus, vans de transporte público e carros em estacionamentos de shopping centers. A violência no Ceará já foi registrada em 26 cidades diferentes do estado. Felzimente, segundo as autoridades, apenas três vítimas tiveram ferimentos leves.
Na madrugada deste domingo (6), o estado registrou duas primeiras mortes: dois suspeitos que tentavam incendiar um posto em Fortaleza trocaram tiros com policiais e acabaram morrendo. Um agente também foi acertado e se feriu, mas não corre risco de vida. Uma outra morte de suspeito, ocorrida na quinta-feira (3), também foi adicionada aos registros.
A secretaria de Segurança informou que, após a chegada dos oficiais da Força Nacional
à Fortaleza, capital do estado, não houve mais nenhum ataque a ônibus, já que os veículos do transporte público passaram a ser ocupados pelos policiais. O número de conduções incendiadas entre quarta e quinta-feira, porém, é de pelo menos 18.
O uso da Força Nacional foi determinado pelo recém-empossado ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro , ainda na sexta-feira (4). Na véspera, o ex-juiz federal já tinha determinado que a Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) tomassem as providências necessárias para auxiliar as polícias locais a conter a onda de violência no Ceará.
Desde então, cerca de 300 homens e 30 viaturas foram deslocados para Fortaleza, onde atuarão por 30 dias em ações de segurança. O novo ministro ainda deixou em aberto a possibilidade de, caso necessário, o prazo seja prorrogado.
Após chegar à capital do estado, os veículos da Força Nacional deixaram o Centro de Formação Olímpica, onde os servidores estão alojados, às 19h42 (20h42, no horário de Brasília) deste sábado (5). A Secretaria de Segurança Pública do Ceará informou que a atuação de tropas nacionais ocorre principalmente em blitzes, com abordagens de motoristas e motociclistas.
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Conforme informou a secretaria, a maior parte das dezenas de ataques que ocorrem no estado é feita com homens em veículos e os agentes federais estarão em "vias estratégias" para evitar que os criminosos consigam se locomover aos locais dos ataques e também as utilizem como rotas de fuga.
Causa da onda de violência no Ceará
O presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará, Cláudio Justa, afirmou crer que os atentados públicos sejam uma represália à fala do novo secretário de Administração Penitenciário (SAP), Luís Mauro Albuquerque, que foi nomeado para o cargo neste ano. Ele declarou que "o Estado não deve reconhecer facção" em presídio e afirmou que fará fiscalização rigorosa para evitar a entrada de celular nas unidades prisionais.
Em uma pichação feita em um posto de saúde da capital Fortaleza, supostos criminosos dizem que a onda de ataques não vai parar até a exoneração do novo secretário. “Não vamos parar até o secretário sair. Fora, secretário Mauro Albuquerque”, diz o recado.
Mesmo diante da "pressão" exercida pelos criminosos, o novo governador do Ceará, Camilo Santana (PT), responsável pela nomeação de Alburquerque, subiu o tom em discurso oficial realizado neste sábado (5) pelas redes sociais e afirmou que não vai recuar.
"Tenho absoluta confiança nos mais de 29 mil profissionais cearenses que formam as forças de segurança do nosso estado, que têm se doado noite e dia para combater o crime, especialmente neste momento em que o estado do Ceará toma medidas duras e necessárias de combate ao crime organizado, fora e dentro de unidades prisionais", disse o político.
"Criamos uma secretaria especialmente para a atuação rigorosa em todos os presídios, agindo com firmeza, dentro da lei e mostrando que o comando é do Estado", continuou o governador. "Endureceremos cada vez mais contra o crime", desafiou.
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Especialistas em segurança pública, no entanto, afirmam que a medida de misturar presos de facções criminosas rivais nos presídios poderá gerar uma chacina dentro das unidades prisionais e lembram que a responsabilidade pela vida dessas pessoas enquanto eles estão detidos é do Estado. Além disso, a permanência desse impasse pode fazer com que os criminosos se unam contra as forças de segurança oficiais e agravar a situação já que, até agora, eles têm poupado a vida das pessoas nos ataques que estão realizando.
Enquanto a situação não é resolvida, moradores de Fortaleza, Tianguá, Pacatuba, Horizonte, Maracanaú, Caucaia, Pindoretama, Eusébio, Morada Nova, Jaguaruana, Canindé, Piquet Carneiro, Morrinhos, Aracoiaba, Baturité, Juazeiro do Norte, Guaiúba, Acaraú, Massapê, Pacajus, Ibaretama, Icapuí, Pacoti, Sobral e Jijoca de Jericoacoara seguem sentindo os efeitos do caos.
Com os atentados, serviços públicos foram afetados. A frota de ônibus de Fortaleza foi reduzida e circulam apenas 41 veículos em toda a cidade, todos com policiais armados dentro. Já as vans da Cooperativa dos Transportes Autônomos de Passageiros do Estado do Ceará (Cootraps), que fazem transporte alternativo da cidade, deixaram de funcionar. Várias delas foram queimadas em ataques recentes.
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A dificuldade das pessoas em se transportar e a insegurança pelo quarto dia consecutivo já causa transtorno em vários serviços públicos como hospitais e bancos. Confira as imagens de alguns dos ataques realizados até agora na onda de violência no Ceará logo na primeira semana do ano: