João de Deus foi visto por pouco tempo na Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia, na última quarta-feira (10) em sua última aparição pública
Marcelo Camargo/ABr
João de Deus foi visto por pouco tempo na Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia, na última quarta-feira (10) em sua última aparição pública

A força-tarefa criada pelo Ministério Público de Goiás apurou denúncias de abuso sexual contra o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, em seis países além do Brasil. Possíveis vítimas procuraram o grupo para denunciar casos de assédio sexual, mesmo vivendo na Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, nos Estados Unidos e na Suíça.

Desde o dia 10, quando a força-tarefa para apurar as denúncias do caso João de Deus criou o e-mail exclusivo para essa finalidade [email protected] , 335 mensagens e contatos por telefones foram atendidos. A alta demanda fez com que o Ministério Público pedisse o retorno antecipado das férias da promotora titular de Abadiânia , Cristina Marques, para reforçar a equipe que investiga as acusações.

Até então, as investigações estavam sendo conduzidas pelo promotor de Alexância (uma cidade próxima à Abadiânia), Steve Gonçalves Vasconcelos, que já contava com a colaboração do coordenador e subcoordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal, Luciano Miranda Meireles e Paulo Eduardo Penna Prado; a coordenadora do CAO dos Direitos Humanos, Patrícia Otoni Pereira; a integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Gabriella de Queiroz Clementino; e as psicólogas, Liliane Domingos Martins e Lícia Nery Fonseca.

Além disso, o fato de denúncias de abuso sexual estarem vindo de vários outros países do mundo (a primeira a denuncia o líder espiritual foi uma holandesa) obrigou que a força-tarefa do Ministério Público também incluísse dois tradutores  de línguas estrangeiras na operação já que "temos casos de fora do Brasil e, por isso, temos a necessidade de acompanhamento para ajudar a gente a esclarecer todas essas situações", afirmou o procurador-geral do Ministério Público de Goiás, Benedito Torres.

A montagem de uma equipe desse tamanho foi necessária porque o número de denúncias começou a crescer rapidamente depois que o programa Conversa com Bial, da TV Globo , divulgou o relato de 10 mulheres que disseram ter sido abusadas sexualmente por João de Deus. Esse crescimento exponencial costuma acontecer em casos como este em que as vítimas, em geral, sentem vergonha por terem sofrido o assédio, mas se sentem encorajadas a denunciar depois que outras vítimas fazem o mesmo.

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Dentro do Brasil, de acordo com o próprio Ministério Público , as denúncias se referem a possíveis vítimas que estão em Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, no Distrito Federal, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Pará, Piauí e Maranhão, totalizando 14 unidades da federação. Isso porque pessoas de vários lugares do Brasil (e de fora do País também) iam até a Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia (GO) para fazer os tratamentos espirituais oferecidos por João de Deus.

Também já houve levantamento do número de depoimentos coletados em outros estados. Ao todo, foram 30 colhidos pelos Ministérios Públicos de São Paulo, Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Espírito Santo.

A própria Polícia Civil, por sua vez, também montou sua própria força-tarefa para apurar as denúncias do caso, mas, no esforço de ampliar a integração da atuação do MP e da Polícia Civil no caso, o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Neto, esteve com o delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes. No encontro, eles definiram que mais dois nomes serão incorporados à força-tarefa.

Além da própria promotora de Abadiânia, Cristina Marques, que retorna de férias, uma delegada da força-tarefa criada pelo MP também vai integrar os trabalhos da Polícia Civil. O procurador-geral de Justiça também encaminhou um ofício-circular aos procuradores-gerais de Justiça dos MPs estaduais e do Distrito Federal solicitando a designação de unidades de atendimento para coleta de depoimentos de possíveis vítimas do médium.

João de Deus recebeu mandato de prisão preventiva na última sexta-feira (14), mas ainda não foi encontrado e se tornou um foragido da justiça
Cesar Itiberê/ Fotos Públicas
João de Deus recebeu mandato de prisão preventiva na última sexta-feira (14), mas ainda não foi encontrado e se tornou um foragido da justiça

Na última sexta-feira (14), a Justiça de Goiás, através do juiz Fernando Chacha, responsável pela comarca de Abadiânia, aceitou o pedido do Ministério Público e decretou a prisão preventiva de João de Deus . Depois disso, os oficiais de justiça procuraram o líder espiritual em mais de 20 endereços, mas ele não foi encontrado. Diante disso, a Polícia declarou que João de Deus será considerado um foragido de Justiça se não se apresentar às autoridades até as 14h desta sábado (15).

O advogado que representa João, Alberto Zacharias Toron, disse na noite de quarta ao iG que era cedo para qualquer manisfestação sobre o pedido de prisão, uma vez que a defesa não havia tido acesso ao teor da acusação.

"Sem conhecer os termos pelos quais ele foi veiculado, fica difícil de me manifestar. De qualquer modo, eu ressalto que João continua em Abadiânia à disposição das autoridades", afirmou o advogado.

Já em nota divulgada nesta sexta-feira (14), a defesa do médium afirmou que ainda não teve acesso aos depoimentos prestados por parte das centenas de mulheres que afirmam ser vítimas de abusos sexuais cometidos pelo médium ao longo de anos.

“Na última segunda-feira (10), estivemos no Ministério Público estadual, em Goiânia, para obter cópias dos depoimentos prestados pelas vítimas e amplamente noticiados pela imprensa. O pedido foi negado sob o argumento da preservação do sigilo”, afirmam os advogados de João de Deus que ainda completaram dizendo que "é inaceitável a utilização de pretextos e artifícios para se impedir o exercício do direito de defesa. Sobretudo no que diz com o direito básico de se aferir a legalidade da decisão mediante a impetração de habeas corpus”, acrescentam os advogados, afirmando que nem mesmo o número do processo – que corre em segredo de Justiça por se tratar de crime sexual – foi informado à defesa.

Na nota, os advogados de João de Deus não questionam a decisão judicial, mas criticam a atitude do Ministério Público de Goiás. “Que a autoridade judiciária queira impor a [prisão] preventiva é compreensível, embora possamos discordar, mas negar acesso aos autos, chega a ser assombroso”, concluem os advogados, sem informar se seu cliente irá se apresentar à Justiça.

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Com a quantidade acumulada de denúncias de abuso sexual, João de Deus poderá "quebrar o recorde" de outro caso famoso, do ex-médico de reprodução assistida Roger Abdelmasshih. Ele foi condenado a 278 anos de prisão por ter cometido 52 estupros e quatro tentativas de estupro a 39 mulheres diferentes. Nesse processo, foram ouvidas mais de 200 pessoas, entre elas 130 testemunhas de defesa e 35 mulheres que acusavam o médico.

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