
Um fator climático de preocupação agrícola é a ocorrência da chamada geada negra, fenômeno típico de períodos de frio intenso associado à baixa umidade e ventos fortes. Ao contrário da geada comum, a geada negra não forma cristais de gelo visíveis, mas congela rapidamente a seiva das plantas, provocando necrose nos tecidos e escurecimento da vegetação — daí o nome “negra”.
Esse tipo de geada é altamente prejudicial para a agricultura. Além dos impactos diretos nas lavouras, a vegetação ressecada por esse fenômeno torna-se suscetível a queimadas. Esse cenário torna ainda mais delicado o manejo das áreas rurais durante o inverno, já que a combinação entre vegetação enfraquecida, clima seco e ventos intensos cria condições ideais para a propagação do fogo.
Geada pode aumentar risco de incêndios
Apesar dos volumes elevados de chuva registrados em algumas regiões de Minas Gerais, o risco de incêndios em áreas de vegetação continua alto. Isso ocorre devido à umidade acumulada que pode não ser suficiente para reverter a condição de seca da vegetação, especialmente em regiões como a Zona da Mata e o Campo das Vertentes.
A pedido do Sistema Faemg Senar, o 4º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais realizou um levantamento que revela a gravidade da situação. Entre os meses de inverno de 2024 foram contabilizadas 2.580 ocorrências de incêndios em áreas de vegetação nessas regiões. Do total, 834 casos ocorreram em pastagens e 166 em áreas rurais desprotegidas.
Segundo o tenente João Victor, do Corpo de Bombeiros, grande parte desses focos começou de maneira aparentemente inofensiva, com o uso do fogo para limpar terrenos. No entanto, a prática segue sendo altamente desaconselhada.
“Primeiro porque reduz a qualidade do solo, já que elimina a microbiota e, a longo prazo, diminui a fertilidade do solo, o que vai trazer prejuízos para o agricultor, além de causar a redução da biodiversidade na região, porque mata insetos, répteis, roedores causando o desequilíbrio da cadeia alimentar daquele ecossistema” , explica.
O militar também alerta para o risco de responsabilização criminal. Caso o fogo atinja áreas de preservação permanente ou reservas florestais, o autor pode ser enquadrado por crime ambiental, com penas que incluem até quatro anos de prisão e aplicação de multa.
Para reduzir os riscos de propagação do fogo entre propriedades, a orientação é criar aceiros – faixas de proteção sem vegetação que impedem o avanço das chamas. O tenente explica que essa faixa deve ter largura equivalente a duas vezes e meia a altura da vegetação ao redor. Ou seja, para um mato de um metro, o aceiro ideal precisa ter 2,5 metros de largura. A limpeza pode ser feita com roçadeiras ou por capina manual.
Em caso de incêndio, a recomendação é não tentar combater as chamas sem preparo técnico e equipamentos adequados. “Tivemos registros de mortes na região por conta de pessoas que tentaram apagar o fogo sozinhas. Combater incêndios exige preparo físico e conhecimento, já que o comportamento do fogo muda rapidamente, especialmente com o clima seco e ventos fortes” , reforça o tenente João Victor.
Como forma de prevenção, o Sistema Faemg Senar, em parceria com os Sindicatos de Produtores Rurais, oferece cursos gratuitos de capacitação para brigadistas florestais e rurais, tanto em nível básico quanto avançado. Os treinamentos visam preparar moradores e trabalhadores do campo para atuarem de forma segura e eficiente diante de situações de risco.
A orientação em caso de incêndio continua sendo clara: acione imediatamente o Corpo de Bombeiros pelo telefone 190. A rapidez na resposta é fundamental para evitar danos maiores, preservar vidas e proteger o meio ambiente.