Candidatos nas prévias presidenciais do PSDB, os governadores João Doria e Eduardo Leite trocaram acusações nesta sexta-feira sobre o apoio de tucanos ao governo Jair Bolsonaro. Os ataques mútuos entre o paulista e o gaúcho deram o tom do debate organizado pelo jornal o Estado de S.Paulo. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também participou do evento, mas faz uma campanha mais discreta.
Na terça-feira, a maioria da bancada do PSDB desrespeitou a orientação do partido e votou a favor da PEC dos Precatórios, proposta que permite que o governo abra espaço no orçamento para custear o benefício do Auxílio Brasil, ainda que fure a política do teto de gastos.
Na ocasião, a bancada paulista do PSDB votou contra a proposta do governo Bolsonaro , enquanto os gaúchos foram a favor. A maioria dos apoiadores de Leite nas primárias também votaram com o governo, sobretudo os deputados que atuam mais fortemente em sua campanha como os mineiros Aécio Neves, Paulo Abi-Aeckel e o líder Rodrigo de Castro, entre outros parlamentares. Ainda assim, alguns aliados de Doria nos estados também foram favoráveis ao governo, como Domingos Sávio (PSDB-MG), Ruy Carneiro (PSDB-MG) e Edna Henrique.
Leite perguntou a Doria como este reagia diante de aliados seus que votavam com Bolsonaro. O paulista reagiu em tom firme:
"Os três parlamentares que você (Leite) comanda no Rio Grande do Sul votaram com o governo bolsonaro, assim como os três (deputados mineiros ) que coordenam a sua campanha como Aécio, Abi-Aeckel e o líder Rodrigo de Castro, que orientou os deputados a votarem com Bolsonaro. Eu respondo pelo estado de São Paulo".
Ao rebater, o gaúcho procurou demarcar sua diferença de estilo em relação a Doria e, como tem feito durante a campanha, sugeriu que o seu perfil é mais agregador em oposição ao rival que enfrenta resistência interna na sigla.
"O João falou dos deputados que comanda.A gente tem que discutir aqui o estilo de cada um. Eu não comando, convenço com argumentos".
Doria ainda retrucou:
"Seus deputados votam com Bolsonaro há meses".
Leite ainda aproveitou o ensejo para, segundo sua visão, sugerir que sua candidatura teria mais viabilidade eleitoral que a de Doria. Ele lembrou que o paulista teve rejeição em São Paulo após deixar a prefeitura para se eleger governador em 2018, quando venceu a eleição no estado, mas teve menos votos que o socialista Márcio França na capital. Depois, ele ainda alfinetou o paulista ao lembrar um episódio recente quando Doria foi ao interior da Paraíba e, ao discorrer sobre a questão da seca, pediu à plateia que levantassem o braço aqueles que já haviam visitado Dubai, nos Emirados Árabes.
"Temos que discutir a viabilidade eleitoral. A rejeição do João nas pesquisas é o dobro da minha. Precisamos de alguém com capacidade de se comunicar com aquele povo que não pode ir para Dubai, por exemplo. O PSDB tem que falar sobre capacidade eleitoral, para que o partido possa se viabilizar nas eleições de 2022", disse Leite.
Ao responder, Doria disse que sua diferença em relação ao rival se dá nas realizações de impacto nacional e lembrou da vacina Coronavac, que contribuiu para a redução das mortes pela doença no país. O paulista ainda sugeriu que o gaúcho tinha uma postura de conveniência em relação ao apoio de seus aliados a Bolsonaro.
"Não quero ser palatável, quero ser confiável. Não quero ser conveniente. A conveniência gerou Bolsonaro. Eu estava no front defendendo a vacina, a mesma que foi aplicada em todos estados e no Rio Grande do Sul. Isso que marca a nossa diferença", concluiu.