Anunciado com pompa em março — após uma reunião no Palácio da Alvorada que contou com os chefes dos Três Poderes, quase todos os ministros do governo federal, governadores e representantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Tribunal de Contas da União (TCU) — o comitê de combate à Covid-19, que reunia Executivo e Legislativo, foi sendo esvaziado aos poucos e acabou esquecido, sem um anúncio oficial de seu fim.
A sétima e última reunião ocorreu em junho. Uma oitava reunião chegou a ser marcada para julho, mas foi cancelada devido a um problema médico do presidente Jair Bolsonaro . Ao GLOBO, o Ministério da Saúde informou na semana passada que "as atividades do Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentando da Pandemia da Covid-19 foram encerradas, já que não houve ato de prorrogação".
Questionada sobre um balanço da atuação do grupo, a pasta informou apenas que as sete reuniões "trataram de ações estratégicas de combate à pandemia".
Entretanto, não há detalhes sobre essas ações: nem a Presidência, nem a Casa Civil, nem o Ministério da Saúde registraram atas das reuniões, conforme responderam a pedidos feitos via Lei de Acesso à Informação (LAI).
O comitê foi criado em meio ao crescimento da segunda onda da pandemia, quando a média móvel de mortes diárias passava de 2 mil. Bolsonaro havia acabado de demitir Ernesto Pazuello do Ministério da Saúde, em uma tentativa de dar uma guinada na ações de combate à Covid-19.
Participavam Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) , e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) , além de observadores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
A lista de presença indica parte do prestígio do comitê: Arthur Lira compareceu apenas à primeira reunião. No segundo e no quarto encontro, enviou um representante — o deputado Dr. Luizinho (PP-RJ). Nos demais, nem representante enviou.
Pessoas próximas de Lira relatam que ele considerava as reuniões pouco produtivas. Procurada, a assessoria do presidente da Câmara afirmou que nas datas das reunião havia projetos importantes em votação, incluindo pautas relacionadas à pandemia.
O número de participantes das reuniões também foi diminuindo: chegou a 14, incluindo ministros do governo federal, mas nos últimos encontros ficou entre nove e dez.
Além disso, as declarações à imprensa foram reduzidas. Após a primeira reunião, falaram Lira, Pacheco e Queiroga. Depois do segundo encontro, Queiroga e Pacheco. Após a terceira reunião, somente Queiroga. Nos encontros seguintes não houve pronunciamentos.
Os principais anúncios concretos feitos após as reuniões foram antecipações do de entregas de vacinas da Pfizer e do consórcio da Covax Facility.
A Presidência da República e a Presidência do Senado também foram procuradas para comentar o fim do comitê, mas não retornaram.