Após a Agrishow cancelar a abertura do evento que aconteceria nesta segunda-feira (1º) e afirmar que, apesar de poder ir à exposição e circular pelo local, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria proibido de fazer qualquer tipo de discurso na feira, na prática a situação foi o contrário.
Após um tumulto por conta de sua chegada no evento , Bolsonaro se posicionou no palco ao lado do governandor de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que discursou, agradando apoiadores do ex-presidente que participam da feira.
"Eu queria começar cumprimentando, não poderia ser diferente, o nosso presidente Jair Bolsonaro", disse o governador, que foi interrompido por gritos de "mito, mito".
Após isso, Bolsonaro iniciou um discurso em que criticou o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aproveitou para direcionar as palavras a apoiadores fazendo do palco um palanque político.
Em um dos momentos, o ex-presidente critica as demarcações de terras no país e ignora a crise Yanomami chamando os indígenas de "irmãos".
"Por exemplo, uma das reservas indígenas tem 31 mil hectares, apenas 'existe' lá nove indígenas. Algo não está certo. Não é possível 31 mil hectares para nove pessoas", disse Bolsonaro.
"Nunca tive má vontade para com o indigenista, muito pelo contrário. Até enviamos um projeto no começo de 2021, tá no Congresso, não foi pra frente... Mas que permitia aos indígenas, se fosse da sua vontade, fazer como os fazendeiros fazem em suas propriedades ao lado", continuou.
Bolsonaro ignorou a crise do garimpo ilegal nas Terras Yanomamis que chegou a níveis alarmantes durante sua gestão e afirmou que seu proteto [citado do discurso] dá dignidade aos indígenas.
"É uma maneira de tratar com respeito e com dignidade os nossos irmãos indígenas e não dessa forma como está ai", disse.
Segundo ex-presidente, há 400 pedidos de demarcações de Terras Indígenas e 3.500 pedidos para novos quilombolas no país. Para ele, se o governo atender 10% desses pedidos o agronegócio sofrerá consequências.
"Nós sabemos que se 10% for atendido, para onde irá o nosso agronegócio?", finalizou questionando.
No decorrer do evento, Bolsonaro voltou a discursar e falar sobre as 'conquistas' realizadas durante os quatro anos do seu governo.
Polêmicas antes da cerimônia de abertura
A ida do ex-mandatário à feira segue envolvida em diversas polêmicas desde que ele confirmou sua presença.
No domingo (30), a Agrishow resolveu cancelar a cerimônia de abertura do evento após o Banco do Brasil suspender o patrocínio para cerimônia. O caso ocorreu após a organização falar para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre um provável mal-estar dele ir á feira, que teria a presença do ex-presidente. A ação soou como se eles estivessem desconvidando Fávaro.
A organização da Agrishow informou, por meio de nota, que, “ em virtude de toda a repercussão gerada pela cerimônia de abertura da 2ª edição da Agrishow, as entidades realizadoras do evento optaram por não realizar solenidade de abertura da feira, prevista para o dia 1º de maio, às 11h”
Os dois principais patrocionadores da Agrishow era o governo e o Banco do Brasil, no entanto, o Executivo federal resolveu por cancelar o apoio na sexta-feira (28).
O ministro da Agricultura pretendia utilizar o evento para realizar o lançamento oficial de uma linha de financiamento em dólar para o agronegócio, que será operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), e para anunciar mais recursos para o Plano Safra de 2023.
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