O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm mantido discursos que acusam instituições democráticas de perseguição , segundo reportagem da revista The Economist.
A publicação destaca que Bolsonaro, apelidado de “Trump dos trópicos”, enfrenta julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) a partir da próxima terça-feira (2), por suposta tentativa de golpe contra o resultado eleitoral.
“Imagine um país onde um presidente polarizador perdeu a tentativa de reeleição e se recusou a aceitar o resultado. Ele declarou que a votação foi fraudada e usou as redes sociais para convocar seus apoiadores a se insurgirem. Eles atenderam em milhares, atacando prédios do governo” , escreve a revista, traçando paralelo entre os acontecimentos nos Estados Unidos e no Brasil.
A revista relata que, no caso brasileiro, “um ex-general de quatro estrelas conspirou para reverter o resultado eleitoral; assassinos planejaram matar o vencedor legítimo. Como explica nossa investigação sobre o complô, o golpe falhou por incompetência, não por falta de intenção” . Bolsonaro e aliados provavelmente serão considerados culpados, observa a publicação.
O texto também compara os dois países: “A América se torna mais corrupta, protecionista e autoritária — com Donald Trump nesta semana interferindo no Federal Reserve e ameaçando cidades controladas pelos democratas. Já o Brasil, mesmo com a administração Trump punindo-o por processar Bolsonaro, mostra-se determinado a proteger e fortalecer sua democracia.”
Revista relembra ditadura do Brasil
O The Economist destaca ainda a memória da ditadura brasileira como fator de preservação democrática.
“Uma das razões para o Brasil se diferenciar de outros países é que a memória da ditadura ainda é recente. A democracia foi restaurada em 1988. O Supremo, moldado pela ‘Constituição cidadã’ de então, mantém a visão de si mesmo como barreira contra o autoritarismo.”
A publicação cita que Trump também tem atacado diretamente o Supremo brasileiro, acusando a corte de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro e impondo tarifas sobre produtos brasileiros.
A revista afirma que essas ações tiveram impacto limitado, reforçando pesquisas de intenção de voto favoráveis a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo a análise, apesar das divisões internas e da resistência de apoiadores radicais de Bolsonaro, políticos tradicionais no Brasil buscam reformas estruturais e mudanças institucionais respeitando regras democráticas.
“Pelo menos por ora, o papel de ‘adulto democrático’ no hemisfério ocidental parece ter se deslocado para o sul” , conclui o texto.