A avaliação interna é de que não há margem para reversão
Official White House Photo by Shealah Craighead - 12.01.2021
A avaliação interna é de que não há margem para reversão

O governo federal brasileiro considera muito difícil que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, volte atrás na decisão de impor tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil para o mercado americano, conforme apurou o Portal iG . A medida, anunciada por carta em 9 de julho , entra em vigor no próximo dia 1º.

A avaliação interna é de que não há margem para reversão, mesmo com tentativas de negociação lideradas pelo vice-presidente e ministro do MDIC (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Geraldo Alckmin (PSB).

"Empenho nessa semana é buscar resolver o problema. Estamos dialogando neste momento, pelos canais institucionais, e com a reserva", disse em entrevista coletiva nesta segunda (28).

"Esse diálogo ele começou em março. Boa conversa e em decorrência dela se instaurou um grupo de trabalho. Em maio nos foi solicitado uma carta e nós a remetemos, mas não tivemos uma resposta. Estamos conversando, estamos dialogando", completou.

Porém, fontes do governo apontam a ausência de canais de alto nível com a atual administração dos EUA, agravada por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em apoio à ex-vice-presidente Kamala Harris nas eleições de 2024.

A embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, não tem acesso a interlocutores influentes na Casa Branca.

Segundo relatos ouvidos pelo Planalto, decisões comerciais têm partido de um núcleo próximo a Trump, com influência de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que vive nos EUA desde o início do ano, é citado como interlocutor nesse grupo.

Trump justificou a tarifa com base em suposto déficit comercial com o Brasil e em críticas ao processo judicial contra Bolsonaro.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e do governo americano contradizem a alegação econômica. Os EUA acumulam superávit comercial com o Brasil desde 2009, com saldo de US$ 43 bilhões na última década.


No primeiro semestre de 2025, o superávit americano foi de R$ 1,7 bilhão, quase cinco vezes maior que o do mesmo período de 2024.

A tarifa de 50% foi a mais alta anunciada por Trump entre os mais de 20 países atingidos por novas medidas comerciais. O Brasil é o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás da China.

Em 2024, o país exportou US$ 40,4 bilhões para os EUA, o equivalente a 12% do total. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul concentram mais de 70% desse valor.

Além da tarifa, o USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) vai abrir investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que permite sanções contra práticas consideradas desleais. Trump ameaçou elevar ainda mais as tarifas caso o Brasil reaja.

A retaliação brasileira é prevista na Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, que autoriza medidas como sobretaxas a produtos americanos, restrições às importações e suspensão de acordos comerciais. A aplicação da lei é considerada cada vez mais provável dentro do governo.

A diplomacia brasileira buscou apoio do setor privado americano. Em reuniões com Alckmin, representantes de empresas como Amazon, Coca-Cola, GM e Caterpillar, além da Câmara Americana de Comércio, manifestaram oposição à tarifa.

A Amcham estima que o comércio bilateral sustenta 3,2 milhões de empregos no Brasil e 130 mil nos EUA.

A Casa Branca prepara nova declaração de emergência para justificar legalmente a medida.

Avaliações e ações

Donald Trump assina decretos no Salão Oval, na Casa Branca
Casa Branca/Reprodução
Donald Trump assina decretos no Salão Oval, na Casa Branca


Na semana passada, senadores democratas dos EUA enviaram carta a Trump classificando a tarifa como abuso de poder motivado por interesses pessoais. Eles alertaram para impactos sobre consumidores americanos e empregos, mas não houve resposta pública.

Na mesma semana, os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes, e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, foram revogados. O gesto foi interpretado por auxiliares de Lula como sinal adicional de que Trump não pretende recuar.

O Planalto avalia ações na Organização Mundial do Comércio. Também estão em estudo medidas emergenciais de apoio a setores afetados, como suco de laranja, carne bovina, aço, celulose e aviação. Entre as opções, estão subsídios, crédito e ajustes trabalhistas, embora haja preocupação com o impacto fiscal.

O prazo para negociação se encerra nesta semana. No cenário atual, o governo trabalha com a hipótese de guerra comercial.

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