
A divulgação de áudios atribuídos ao tenente-coronel Mauro Cid nesta terça-feira (17) reacendeu a atenção sobre práticas de vigilância na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro(PL).
As gravações, tornadas públicas por decisão do Supremo Tribunal Federal, mencionam investigações da Polícia Federal e supostos esquemas dentro do governo.
Um dos focos dessas apurações é o uso do software de geolocalização FirstMile, comprado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em 2018.
O FirstMile é um sistema de monitoramento remoto de celulares. Desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, o software permite rastrear a localização de aparelhos em tempo real por meio da exploração de vulnerabilidades em redes de telecomunicações.
No Brasil, foi adquirido pela Abin por R$ 5,7 milhões, em contrato firmado sem licitação. Segundo a Polícia Federal, foi utilizado até maio de 2021 para monitorar milhares de linhas, sem autorização judicial.
O sistema não é acessível ao público geral. O uso do FirstMile é restrito a agências estatais e requer aprovação específica, inclusive do governo de origem da fabricante. A comercialização é controlada e direcionada exclusivamente a órgãos de segurança e inteligência.
No caso brasileiro, seu uso foi vinculado à chamada “Abin paralela”, estrutura informal suspeita de operar vigilância sobre alvos políticos, ministros do STF, jornalistas e servidores públicos.
Funcionamento do FirstMile
O funcionamento do FirstMile se baseia no protocolo SS7, que é utilizado por operadoras de telefonia para interconectar chamadas e mensagens entre redes.
Ao inserir o número do celular no sistema, o operador envia uma mensagem técnica que permite identificar a torre à qual o telefone está conectado.
A partir desse dado, o software cruza informações com bases comerciais de geolocalização e aponta a latitude e longitude aproximadas do aparelho.
O sistema opera sem a necessidade de instalação de aplicativos no celular monitorado e funciona em redes 2G, 3G e 4G. Ao contrário de ferramentas como o Pegasus, o FirstMile não acessa conteúdos de mensagens, e-mails, chamadas ou mídias do usuário.
Sua atuação é limitada à localização dos dispositivos, com possibilidade de gerar alertas e relatórios em tempo real sobre deslocamentos.
A Abin poderia monitorar até 10 mil celulares por ano por meio do software. De acordo com investigações da Polícia Federal, o uso ocorreu sem respaldo judicial e sem controle institucional adequado.
A operação “Última Milha” foi aberta para apurar o uso irregular da ferramenta, e o caso é um dos elementos das investigações em curso sobre práticas ilegais durante o governo anterior.
FirtsMile não foi mencionada por Mauro Cid

Apesar de os áudios de Mauro Cid não mencionarem o FirstMile diretamente, o contexto das gravações se insere nas apurações que abrangem o uso do sistema.
Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro e é apontado como figura com acesso a informações estratégicas do governo.
As gravações revelam críticas à condução das investigações e fazem referência a estruturas paralelas e uso de recursos não oficiais.