O padre católico José Eduardo de Oliveira e Silva , da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo , está entre os 37 indiciados nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, orquestrado em 2022 e que visava o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes .
O relatório final do inquérito, com mais de 800 páginas, foi concluído no início da tarde desta quinta e vai ser entregue ao Supremo Tribunal Federal ( STF ) .
Em fevereiro, o padre foi alvo da operação Tempus Veritatis, também da PF, que cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva contra pessoas acusadas de participação na elaboração da tentativa de golpe de estado do 8 de janeiro de 2023.
O religioso é conhecido nas redes sociais por gravar vídeos discutindo guerra cultural, aborto e a influência negativa das músicas de cantoras pop na vida de crianças e adolescentes.
Organização criminosa
O padre José Eduardo é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema. O núcleo assessorava os membros do suposto plano de golpe na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas. A apuração foi feita pelo g1.
De acordo com a Polícia Federal, o padre supostamente participou de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022, com Filipe Martins e Amauri Feres Saad, que também foram indiciados. Os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto indicam o encontro.
De acordo com o inquérito, a reunião fazia parte de uma série de discussões convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para "tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção constitucional."
Filipe Martins era ex-assessor especial de Bolsonaro e foi preso pela PF em fevereiro.
Durante a operação em fevereiro, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva foi informado pela PF que terá que cumprir medidas cautelares para não ser preso, como não manter contato com os demais investigados da operação e entregar todos os passaportes.
Por meio de nota em fevereiro, o padre negou que tenha participado de qualquer conspiração contra a Constituição Brasileira. José Eduardo afirmou que, como sacerdote católico, "é chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas".
"A única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um ‘tradutor’ que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os pedidos do Poder Judiciário. Por isso, constituo meu ‘tradutor’ o Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos obter nos próximos dias", declarou.
Quem é o padre
O padre José Eduardo é sacerdote há 18 anos e faz parte da ala conservadora da Igreja Católica. Ele é o vigário oficial da 'Paróquia São Domingos – o Pregador’, no bairro de Umuarama, em Osasco.
Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), o religioso grava vídeos no Youtube com críticas às cantoras pop, como Madonna e Luiza Sonza, e analisa a letra das músicas e o simbolismo de clipes de canções como “Campo de Morango”. “É de uma baixaria que a gente fica realmente constrangido”, diz ele.
Entre as pautas que o padre também comenta está o aborto: “Você tem pessoas tão loucas que elas são abortistas e veganas. São a favor de que se matem os bebês no ventre de suas mães, mas são totalmente contra o extermínio de animais para o consumo”, declarou ele em outro vídeo.
O padre também frequenta canais e podcast de grande repercussão na extrema direita, como os da produtora Brasil Paralelo e o canal do economista bolsonarista Rodrigo Constantino.
Em reposta ao Portal iG, a A Diocese de Osasco disse que "está acompanhando atentamente a investigação conduzida pela Polícia Federal sobre as acusações envolvendo o padre José Eduardo, e aguardamos o desfecho do processo".