Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Valter Campanato/Agência Brasil - 18/10/2023
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

A divulgação do relatório da Polícia Federal sobre a venda das joias sauditas recebidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)  expõe provas que ligam o ex-mandatário ao caso. Bolsonaro é  suspeito de crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro, e peculato e apropriação de bem público.

Além da delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, a PF ainda usou nas investigações extratos bancários, recibos de compra e venda, passagens aéreas, ofícios e despachos do governo, fotos e mensagens de WhatsApp sobre negociação das joias.

De acordo com o relatório, que foi divulgado nessa segunda (8) pela PF, Bolsonaro sabia das operações de compra e venda dos bens sauditas dados ao governo federal e inclusive conversava com quem estava à frente das negociações. Além disso, o documento ainda expõe a participação de militares de alta patente e auxiliares próximos ao ex-presidente no caso.

O pai de Mauro Cid, general Lourena Cid, foi um dos alvos da PF nessa operação. Ele teve as contas bancárias analisadas pela corporação e admitiu ter repassado US$ 68 mil a Bolsonaro "de forma fracionada conforme a disponibilidade de encontros com o ex-presidente".

"A análise dos saques realizados na conta bancária de LOURENA CID a partir do dia 13 de junho (data do recebimento dos U$ 68 mil dólares) até o mês de setembro de 2022, quando o investigado viaja para compor a comitiva presidencial, evidenciou a saída em espécie do montante de US$ 37.600,00", afirmou a PF.

O relatório ainda conta com fotos encontradas no computador de Mauro Cid, em Nova York (EUA), mostrando Bolsonaro, Lourena Cid e o tenente-coronel conversando no restaurante de um hotel. À época, o ex-presidente visitou a cidade para participar da Assembleia Geral da ONU e recebeu dinheiro vivo do general.

Lourena Cid ainda recebeu, segundo a PF, um dos três lotes de joias que seriam vendidos em seu endereço da Flórida. Mensagens mostram que os pacotes foram entregues por Cristiano Piquet, empresário do ramo imobiliário. No Brasil, a mala chegou em um avião da comitiva presidencial e partiu de Orlando para Miami no carro do corretor.

Entre os arquivos interceptados pela PF, ainda havia trocas de e-mails com vários possíveis compradores das joias. Uma das mensagens mostram um vendedor de loja falando sobre a avaliação dos itens, explicando que, para que uma análise do item fosse feita, teriam que remover partes da escultura de palmeira que Bolsonaro recebeu.

Alfândega de Guarulhos

O momento que o pacote de joias foi retido na alfândega do Aeroporto de Guarulhos também é outro episódio que chamou a atenção da PF, devido às tentativas do governo Bolsonaro em liberar os itens, avaliados em mais de R$ 16 milhões. O lote ficou preso na alfândega depois de ser encontrado na mochila de Marcos André dos Santos Soeiro, que fazia parte da comitiva do então ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque.

Após ofícios, pressão de servidores de vários setores do governo e troca de mensagens, o pacote foi liberado. Toda a operação foi provada pela PF com documentos oficiais e conversas no WhatsApp.

Depois, os itens foram a leilão e, segundo a PF, mensagens entre Bolsonaro e Cid “evidenciam a ciência do ex-presidente”. O ex-ajudante inclusive enviou o link do leilão a Bolsonaro, que respondeu "selva", mostrando que sabia de todo o esquema.

Recompra das joias vendidas

A PF ainda descobriu que Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, comprou passagens para ele e mais uma advogada em 9 de março de 2023 e embarcou dois dias depois. Isso tudo em comunicação com Cid e com o próprio ex-presidente.

“Desde que se tornou público a apropriação das joias pelo ex-presidente JAIR BOLSONARO, os investigados começaram, a partir do início do mês de março, uma intensa movimentação, com trocas de mensagens e ligações diárias, para planejar e executar a operação clandestina de recompra e recuperação das joias”, disse a PF.

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