Reunião ministerial de Bolsonaro que embasou operação da PF
Reprodução/STF/PF
Reunião ministerial de Bolsonaro que embasou operação da PF

Entre as provas obtidas pela Polícia Federal na operação Tempus Veritatis, que investiga o suposto esquema criminoso que atuava para a execução de um golpe de Estado, há o vídeo de uma reunião ministerial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com aliados, em que trocam falas e planos golpistas.

A gravação, do dia 5 de julho de 2022, foi apreendida na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Nela, o ex-presidente se opõe ao processo eleitoral e convoca seus aliados a fazerem o mesmo. Além disso, ele pede que sua equipe tome uma 'ação' antes do pleito, para garantir sua manutenção no Poder independentemente do resultado.

Teriam participado da reunião:

  • Jair Bolsonaro, então presidente;
  • Anderson Torres, então ministro da Justiça;
  • general Augusto Heleno, então chefe do GSI;
  • general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, então ministro da Defesa;
  • general Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil;
  • general Mário Fernandes, então chefe-substituto do GSI.

O STF liberou, na manhã desta sexta (9), a íntegra do vídeo da reunião ministerial, por determinação de Alexandre de Moraes. Assista: 


Confira algumas falas importantes de Bolsonaro e ministros sobre tentativa de golpe

Pessimista em relação às suas chances de ser reeleito, Bolsonaro reuniu seus ministros e aliados para discutir estratégias para deslegitimar o sistema eleitoral. O ex-presidente insistia no discurso da 'fraude' e se mostrava nervoso com o resultado das pesquisas, que apontavam a vitória de Lula. Em certo momento, ele diz que a reação dele e aliados poderia gerar uma 'grande guerrilha' no país.

“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, diz o então presidente aos seus subordinados.

Entretanto, ao mesmo tempo que ordena seus aliados a questionarem o resultado do pleito - que nem havia acontecido ainda - e implantarem o caos no país, o ex-presidente afirma que não era o caso de o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira “botar tropa na rua, tocar fogo e metralhar”.

Ex-ministro da Defesa fala em usar forças armadas na eleição

Em um dos trechos da reunião, o então ministro da Defesa e general da reserva do Exército Paulo Sérgio Nogueira confessa que a finalidade da participação das Forças Armadas na comissão de transparência das eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) era garantir a manutenção de Bolsonaro na presidência.

"O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja... na guerra, a gente é linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido pra que a gente não fique sozinhos no processo" , diz Paulo Sérgio Nogueira.

Em contrapartida, o então presidente se mostra resistente ao uso das Forças durante o pleito, defendendo que a atitude deveria ser tomada antes das eleições.

"Nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se foder? Depois perguntar: por que que não tomei providência lá trás? E não é providência de força não, c*! Não é dar tiro. Ô PAULO SÉRGIO [Nogueira, ex-ministro da Defesa], vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar. Não é isso, p*!"

Súplica aos ministros

"Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto imp... e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que... eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes".

Bolsonaro afirmou que incentivava todos os seus ministros a atestarem contra o processo eleitoral. O mandatário disse que, aquele que não aceitasse sua solicitação, estaria no 'lugar errado':

"E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outros façam por nós. (...)"

"Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vir falar para mim por que que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado."

Augusto Heleno: conversa com Abin e "não vai ter VAR"

No mesmo encontro, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e general Augusto Heleno afirma aos presentes que havia entrado em contato com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) “para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais”.

O ministro, porém, logo foi interrompido por Bolsonaro, que pediu para o tema ser tratado em particular.

Nisso, o ex-ministro defende que o grupo "virasse a mesa" antes do pleito para garantir a manutenção de Bolsonaro na Presidência.

"Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. E vai chegar a um ponto em que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro", disse o general.

"Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro", prossegue o então ministro do GSI.

Ataques diretos ao processo eleitoral

O encontro com os ministros aconteceu poucos dias antes da reunião que Jair Bolsonaro teve com embaixadores, em que fez ataques diretos ao sistema eleitoral. As falas do ex-presidente no encontro serviram de munição para a sua condenação pelo TSE por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

Em dado momento da reunião, ele fala que havia se reunído com o 'pessoal do WhatsApp' e outras mídias.

"Hoje me reuni com o pessoal do WhatsApp, e outras também mídias do Brasil. Conversei com eles. Tem acordo ou não tem com o TSE? Se tem acordo, que acordo é esse que tá passando por cima da Constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros."

Ofensas a Lula e Moraes

Durante todo o encontro, Bolsonaro questiona a isenção de três ministros do STF: Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Roberto Barroso.

“Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em FACHIN, BARROSO, ALEXANDRE DE MORAES? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo que são… Tão vendo acontecer?”.

Em seguida, o ex-presidente profere várias ofensas contra Lula (PT), o então rival na disputa pela Presidência.

“Não tem como esse cara ganhar a eleição no voto. Não tem como ganhar no voto. […] também, eu não vou passar aqui, em 2014 foi aprovado o voto impresso no Congresso, tá fora do foco, né, fora da … do radar nosso, nem lembrava disso, que depois também o nosso Supremo derrubou. O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um super Supremo. Eles decidem tudo. Fora… Muitas vezes fora das quatro linhas.”

Ainda no tópico "Lula", Bolsonaro chega a dizer que o petista era envolvido com o narcotráfico.

"É ... Nós estamos vendo aqui a ... não é toda a imprensa, uma ou outra TV e as mídias sociais sobre a delação do Marcos Valério. A questão da ... da execução do Celso Daniel. Né? É ... O envolvimento com o narcotráfico. É ... Temos informações do General Carvajal lá da Venezuela que tá preso na Espanha. Ele ... já fez a delação premiada dele lá. É... Por anos, abasteceu com o dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales. Né? Essa turma toda que cês conhecem."

Anderson Torres, que na época era o ministro da Justiça, completou as alegações de Bolsonaro.

"Estamos aí, Presidente, desentranhando a velha relação do PT com o PCC. A velha relação do PT com o PCC. Isso tá vindo aí através de depoimentos que estão há muito guardados aí... isso aí foi feito ó. Tá certo? Isso tudo tá vindo à tona. Isso não é mentira. Isso não é mentira. Então, muita coisa está vindo à tona aí. Muita coisa que a população é ... sabe, mas tudo precisa ser rememorado. Tá certo?"

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