O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é investigado de tramar uma tentativa de golpe de Estado
Tânia Rêgo/Agência Brasil
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é investigado de tramar uma tentativa de golpe de Estado

Um  vídeo obtido pela  Polícia Federal (PF) mostra o ex-presidente  Jair Bolsonaro articulando uma dinâmica golpista como seus mininistros durante uma reunião, realizada em 5 de julho de 2022, antes das eleições. Na ocasião, o então chefe do Executivo afirmou que iria "entrar em campo com seu Exército" para impedir uma derrota para  Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

“Hoje me reuni com o pessoal do WhatsApp, e outras também mídias do Brasil. Conversei com eles. Tem acordo ou não tem com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral)? Se tem acordo, que acordo é esse que tá passando por cima da Constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu Exército, meus 23 ministros”, declarou Bolsonaro durante a reunião, segundo a transcrição da PF.

A transcrição do vídeo foi apreendida pela PF na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O trecho, inclusive, aparece na decisão do ministro Alexandre de Moraes , do STF (Supremo Tribunal Federal), que desembocou na operação que mira uma organização criminosa na tentiva de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 .


Pressão

No vídeo, Bolsonaro aparece pressionando seus ministros a apoiar uma tentativa de golpe. "E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23 [2023], olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outros façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o Executivo. Os poderes são independentes, mas nós dois somos irmãos", dispara Bolsonar num trecho.

Bolsonaro também cobra seus ministros a adotar o discurso de que as urnas eletrônicas não eram confiáveis. "Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vir falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado", afirma.

De acordo com a PF, o então ministros da Justiça, Anderson Torres, e o chefe da Casa Civil, general Braga Netto, também fizeram falas na reunião, defendendo a tese. O mesmo aconteceu com Augusto Heleno, ministro do GSI,  que falou em "virada de mesa".

"Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro", declarou Heleno.

O que se sabe sobre a Operação Tempus Veritatis

Na manhã desta quinta-feira (8), a Polícia Federal deflagrou a Operação Tempus Veritatis. A ação tinha como alvo um grupo que, supostamente, teria arquitetado um golpe após as eleições de 2022, com o objetivo de manter o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Antônio Cruz/Agência Brasil - 20.02.2020
Ao todo, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, além de 4 mandados de prisão preventiva e 44 de medidas cautelares. Elas foram cumpridas nos estados do Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, além do Distrito Federal. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 04.10.2016
A operação teve como base a delação do ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Outras provas também foram coletadas pela PF para justificar as buscas promovidas pela operação. Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes Antônio Cruz/Agência Brasil - 24.08.2023
Dentre os alvos, destaca-se o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na operação, os agentes foram à casa do ex-mandatário em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de apreender o passaporte. Entretanto, o documento não estava no local, sendo dado o prazo de 24 horas para ele ser entregue à Polícia. No tarde desta quinta-feira, o documento foi entregue em Brasília, sendo confirmado pelo advogado do ex-presidente, Paulo Bueno. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 04.12.2018
Dentre os presos, estão: os ex-assessores de Bolsonaro, coronel Marcelo Costa Câmara e Filipe Martins; o major do Exército Rafael Martins de Oliveira; e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Montagem/Portal iG - 08.02.2024
A lista de investigados conta com ex-ministros de Bolsonaro e aliados, como o ex-ministro da Casa Civil Braga Netto; ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno; ex-ministro da Justiça Anderson Torres; e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 25.09.2023
O ex-ministro da Justiça, inclusive, já responde ao STF por suspeita de conivência e omissão com os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Por conta desta acusação, Anderson Torres ficou quase quatro meses preso em 2023. Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil - 09.03.2023
Segundo a PF, o grupo teria se dividido em diferentes núcleos que disseminavam peças de desinformação sobre a fraude nas eleições de 2022. Elas teriam começado antes das eleições para “viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital". Tânia Rêgo/Agência Brasil - 16.10.2022
A primeira parte do grupo teria trabalhado na construção de uma imagem de que as eleições foram fraudadas, espalhando fake news sobre a vulnerabilidade do sistema de votação eletrônico. A PF ainda afirma que o discurso é repetido desde 2019, e continuou após a vitória e posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pedro França/Agência Senado - 31.03.2023
Já o segundo eixo ficou encarregado de atuar na promoção de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, com a promoção de um golpe de Estado. Segundo as investigações, o grupo era apoiado por militares com conhecimento tático de forças especiais em ambiente politicamente sensível. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 01.09.2023
A Operação Tempus Veritatis, que vem do Latim “hora da verdade”, é apenas uma das operações que estão em curso investigando a família do ex-presidente e aliados. Outras são: Operação Vigilância Aproximada, que investiga a chamada “Abin Paralela”; Operação Última Milha, investigando sobre o uso da ferramenta de espionagem “First Mile”; Operação Lucas 12:2, focado na investigação de um grupo ligado à Bolsonaro que supostamente comercializava joias e outros bens de valor; Operação Venire, que apura sobre a adulteração de dados sobre a vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde; e a Operação Lesa Pátria, mais conhecida, que investiga os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Polícia Federal/Agência Brasil - 08.02.2024


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