8 de janeiro: diretor-geral da Abin diz que sistema estava 'caótico'

Corrêa responsabiliza os governos passados, desde a redemocratização, pelos problemas da agência

Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin
Foto: Leonor Calasans/IEA-USP
Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, indicado pelo  presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o sistema após os atos golpistas de 8 de janeiro , revelou que a agência estava "caótica" no dia das invasões. Ele atribuiu culpa aos governos passados.

Segundo Corrêa, no dia 8 de janeiro "o sistema estava caótico. Não tinha uma lógica, um funcionamento adequado. É o sistema como todo, e nós vamos atribuir total responsabilidade à Abin, porque era órgão central?", disse em entrevista ao jornal O Globo.

Criada em 1999 pelo Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), a Abin tem o objetivo de informar o Executivo Federal sobre dados relativos à segurança do Estado, da sociedade brasileira, à defesa externa e às relações exteriores.

Após os atos, o presidente Lula afirmou que a inteligência não serviu para avisar sobre as invasões golpistas . O diretor-geral afirma que "sistemicamente, a inteligência não funcionou".

O jornal questionou ainda se Lula sabia sobre os alertas que a Abin enviou ao então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias nas vésperas do 8 de janeiro.

"Eu nem estava no governo. Só fui chamado a partir do dia 17 de janeiro. Isso está sendo apurado. Quero olhar para frente e reconstruir o sistema", respondeu Luiz Fernando Corrêa.

No dia dos atos, o presidente estava em Araraquara, interior do estado de São Paulo, após a cidade sofrer com o excesso de chuvas na época.

Para Corrêa, o problema na Abin ocorre desde a redemocratização, pelos governos não terem tratado a inteligência adequadamente.

"Todos os governos depois (da redemocratização) não trataram a atividade de inteligência devidamente. No segundo governo Lula, foi feita uma reestruturação das carreiras. O meu problema é a inteligência. A atividade foi malcuidada. Isso ocorreu por razões óbvias: a desconfiança de que o serviço servia só para vigiar pessoas, contrariava interesses do Estado, uma questão cultural", afirmou Luiz Fernando Corrêa.