Bolsonaro e Lula
Ivonete Dainese
Bolsonaro e Lula

A declaração do prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União), de que “seus olhos brilham” pelas ideias do ex-presidente Lula (PT), mas que não se podia rejeitar a proposta de Jair Bolsonaro (PL) de fortalecer a base do Rio, sintetizava o clima de disputa na Baixada Fluminense instaurado no segundo turno da corrida pelo Palácio do Planalto . Com cerca de 2,8 milhões de eleitores, a região pode novamente ser o fiel da balança no estado. O atual presidente sai em vantagem, após a vitória com mais da metade dos votos no último domingo em todos os 13 municípios locais, além do  apoio do governador reeleito Cláudio Castro (PL) e de caciques como Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias. Mas a campanha do petista tenta virar o jogo e mira em lideranças emergentes, como o próprio Waguinho.

Após se reunir com Lula e Bolsonaro na sexta-feira, o prefeito de Belford Roxo disse que declararia amanhã o alinhamento formal ao petista, evidenciando o racha do União Brasil no Rio, do qual é presidente. E justificou sua simpatia por Lula devido a bandeiras como a geração de empregos e comida na mesa dos mais pobres. Era a fala de quem demonstrou um capital eleitoral significativo: foi o alavancador das candidaturas fluminenses com mais votos tanto para a Câmara quanto para a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). No caso do Congresso, ajudou a eleger a mulher, Daniela do Waguinho (União), opção de 213.706 eleitores, 114.345 deles (48,9% dos votos válidos) em Belford Roxo, onde ela superou até Lula (97.771 votos).

A campanha petista prevê uma agenda esta semana em Belford Roxo. E a possível reviravolta na cidade elevou a pressão em toda a Baixada, com tentativas do clã Bolsonaro de conter sinais de sangria. O fato é que, se o placar dos prefeitos parece favorável ao ao presidente, muitos se esquivam de declarar abertamente qualquer apoio, e interlocutores dizem que os movimentos nesse tabuleiro estão sendo minuciosamente estudados.

Disputa por apoios

Três prefeitos do mesmo partido de Bolsonaro reiteram a caminhada ao lado do presidente: Dr. João, de São João de Meriti (terceiro colégio eleitoral da região); Jorge Miranda, de Mesquita; e Lucimar Ferreira, de Paracambi. Já assessores de Washington Reis garantiram que Wilson Miguel (MDB), em Duque de Caxias, segue o voto do ex-prefeito. Mas, procurados a maioria não respondeu. Única prefeita na região do PDT — partido que nacionalmente declarou apoio a Lula — , Drª. Fernanda Ontiveros, em Japeri, disse que prefere “não se manifestar no momento sobre o assunto”.

No radar dos petistas, por exemplo, está Rogério Lisboa (PP), prefeito de Nova Iguaçu, onde no primeiro turno Bolsonaro venceu Lula por mais de 20 pontos percentuais. No começo do ano, ele chegou a pender para o petista. Nos últimos meses, fez campanha timidamente para Cláudio Castro, mas pouco se pronunciou sobre a corrida presidencial.

Castro, por sua vez, aposta num crescimento de Bolsonaro na Baixada. Em entrevista ao GLOBO, disse que a região é um trunfo para o presidente confirmar a vitória no Rio.

"Acredito muito na força da Baixada. Nova Iguaçu já tem uma divisão maior. Lá, Lindbergh (Farias, PT) foi prefeito duas vezes. Então, Nova Iguaçu é um local um pouco mais à esquerda", disse Castro, acreditando que há lastro para o presidente crescer em cidades como Caxias.

No município, Bolsonaro venceu com 53,18% dos votos. Mas foi um dos únicos da Baixada em que Lula ultrapassou a marca dos 40% — teve, precisamente, 40,1%. São números que mostram como a tarefa dos petistas é árdua. Entre os deputados federais eleitos com mais votos na região, Aureo Ribeiro (Solidariedade) é um reforço confirmado para o lado de Lula. Mas Dr. Luizinho (PP), que ano passado chegou a ser cogitado para o Ministério da Saúde, diz que vai fazer o que Ciro Nogueira (PP), ministro da Casa Civil, mandar.

Na lembrança dos apoiadores de Lula, no entanto, estão as vitórias que a Baixada deu ao partido em 2014, 2010 e, sobretudo, 2006, a última vez em que Lula havia sido candidato. No primeiro turno daquele ano, Lula chegou a superar 65% dos votos em Magé, Queimados, Belford Roxo e Japeri. No quadro das prefeituras, o partido e seus aliados também já tiveram mais espaço na região. Em Belford Roxo, antes da ascensão de Waguinho, eram prefeitos da esquerda que governavam: Alcides Rolim, então no PT, de 2009 a 2012, e Dennis Dauttman, no PCdoB, de 2013 a 2016. Nova Iguaçu teve Lindbergh de 2005 a 2010. E um dos nomes mais influentes do PT no estado, apesar da derrota para o Senado, André Ceciliano foi prefeito de Paracambi por dois mandatos nos anos 2000.

Apesar da ida de Waguinho para o lado petista, Reis afirma que seu grupo assumirá a campanha de Bolsonaro em Belford Roxo. E confirma um comício do presidente na Baixada para o dia 14, às 11h, na Praça do Teatro Raul Cortês, Centro de Duque de Caxias.

"Vamos fazer campanha na Baixada e no Rio inteiro. Acredito que Bolsonaro possa vencer no estado com mais de 2,5 milhões de votos de diferença — avalia ele, que comenta a debandada do prefeito de Belford Roxo. — O Waguinho é um bom companheiro. Mas não tem independência política. A decisão dele creio que foi por determinação do (Antônio) Rueda (vice-presidente do União Brasil)", afirma.

Bolsonaro, por sua vez, teve uma pequena redução no número absoluto de eleitores na Baixada em relação ao primeiro turno de 2018: 23.897 a menos, com perdas, sobretudo, em Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. No Rio, ele tem outro desafio. Niterói foi o único município da Região Metropolitana onde Lula ganhou — o PT havia perdido no primeiro turno em 2010 e em 2014.

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