Ciro Gomes
José Cruz/Agência Brasil
Ciro Gomes

Com dificuldades para formar alianças e impulsionar sua candidatura presidencial, o pedetista Ciro Gomes mergulhou na campanha estadual do Ceará em um esforço para evitar uma derrota em seu principal reduto eleitoral, em meio a sinais de isolamento e de atritos em família. Em terceiro lugar nas pesquisas, Ciro convive agora com um cenário nacionalizado na campanha cearense, que passou a ter palanques alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente Lula (PT). Nas três vezes em que concorreu à Presidência, Ciro foi o mais votado no estado no primeiro turno, mesmo perdendo nacionalmente.

Enquanto Ciro expôs a necessidade de uma nova vitória estadual ao discursar no domingo, em Fortaleza, na convenção que lançou a candidatura do aliado Roberto Cláudio (PDT) ao governo, dois de seus irmãos faltaram ao evento: o prefeito de Sobral, Ivo Gomes, e o senador Cid Gomes. Cláudio foi escolhido candidato após uma disputa interna no partido com a atual governadora Izolda Cela (PDT), apoiada pelo ex-governador Camilo Santana (PT), aliado próximo a Cid. Camilo renunciou ao governo em abril para concorrer ao Senado, deixando a vice no cargo.

Em seu discurso, Ciro criticou a “prepotência de lideranças” que teriam abandonado seu grupo “por uma ninharia ou um carguinho de ministro” — uma indireta a Camilo, a quem já havia acusado anteriormente de ter um acordo com Lula para um futuro governo. Ciro também criticou a atual gestão estadual, afirmando que a população “está passando um péssimo bocado (com) desemprego, carestia e violência”.

A fala do pedetista, que implodiu de vez a relação com Camilo, ocorreu três dias depois de o irmão, Cid, ter se encontrado com o ex-governador petista em Sobral, em um esforço para apaziguar os ânimos e evitar ataques entre ex-aliados na campanha. Por ora, quem lidera as pesquisas ao governo é Capitão Wagner (União), apoiado por Bolsonaro. Aliados de Ciro, por sua vez, acusam Izolda e Camilo de uso da máquina estadual para atrair o apoio de prefeitos e deputados e tentar esvaziar a candidatura de Cláudio, cujo nome foi vetado pelo PT à época das discussões para manutenção da aliança com o PDT.

"Se nós fôssemos esse Abacaterol todo (expressão da política cearense que usa um remédio antigo para designar solução para todos os problemas), os danadões da propaganda, por que nosso principal adversário lidera as pesquisas? Políticos importantes, abaixem um pouquinho a crista", disse Ciro.

Na convenção, Ciro afirmou ainda ter “sacrificado” a si mesmo para eleger Cid ao governo do Ceará, em 2006. Entre elogios à gestão do irmão, que depois lançou Camilo Santana como sucessor, em 2014, Ciro ressaltou seu próprio papel ao projetá-lo:

"Tinha lugar que o Cid não tinha onde chegar. E o carinho, a generosidade do povo, permitiu a eu mesmo chegar e apresentá-lo."

Horas depois do discurso, Camilo reuniu-se em São Paulo com Lula e com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB), desafeto de Ciro, para anunciar a candidatura do petista Elmano de Freitas ao governo. Segundo Eunício, Lula viajará ao Ceará no início de agosto para lançar a candidatura de Elmano e, em seguida, visitar a barragem do Jati, obra que faz parte do projeto de transposição do Rio São Francisco.

Além do silêncio de Cid, que afastou-se das articulações estaduais, a movimentação de Ciro a favor de Roberto Cláudio gerou contrariedade de outro irmão, Ivo, prefeito de Sobral, berço político da família Gomes. No início do mês, Ivo chegou a declarar apoio a Izolda, antiga aliada na cidade: seu marido, Veveu Arruda (PT), o antecedeu na prefeitura.

Às vésperas da reunião do PDT cearense que indicou, por 55 votos a 29, o apoio à candidatura de Cláudio há uma semana, Ivo fez uma publicação nas redes sociais afirmando que Cid, Camilo e Izolda estariam “todos juntos” na campanha para eleger Ciro e “garantir que o Ceará não caia nas mãos de fascistas iletrados”.

Após o resultado da reunião, Ivo afirmou, em entrevista ao jornal “Diário do Nordeste”, que o irmão Cid foi “alijado do processo” de escolha da candidatura por Ciro e Cláudio, a quem considerou culpados pelos “danos” à aliança com o PT. Na convenção de domingo, Ciro retrucou o irmão ao reclamar da “fuxicalhada” e disse não comentar “assuntos de família nos jornais”.

Aliados de Ciro reconhecem o estremecimento na relação com os irmãos, mas avaliam que são problemas “temporários” e que a família estará junta na campanha. Cid também não foi ao lançamento da candidatura de Ciro à Presidência, na última quarta-feira, mas publicou em suas redes no mesmo dia em apoio ao irmão, a quem classificou como “único que tem um projeto para o Brasil e que pode superar essa polarização nefasta”.

Considerado o principal articulador da família no estado, por ter bom trânsito com diferentes grupos políticos, Cid se manteve recluso em Sobral nas últimas semanas, segundo interlocutores. Ciro esteve ontem na cidade, onde gravou vídeos para a campanha eleitoral.

Briga por alianças

Por ora, a candidatura de Roberto Cláudio tem o apoio do PSD, que indicou o candidato a vice, o ex-deputado Domingos Filho — pai do deputado federal Domingos Neto (PSD-CE), relator do Orçamento da União em 2019, ano que marcou a expansão das emendas que formam o chamado “orçamento secreto”. Camilo, por sua vez, busca atrair outros partidos da base governista para a candidatura do PT. O MDB, de Eunício, que tem recebido acenos de Lula em diferentes estados, deve indicar o vice na chapa petista no Ceará.

"Lula disse a mim que o Ceará passou a ser uma prioridade para ele", disse Eunício.

Camilo, que viajou ontem a Brasília, também negocia apoios do PP e do PSB. Outro alvo da ofensiva petista é o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), buscado por interlocutores de Lula para reunir-se com o ex-presidente. Tasso, porém, tem dado sinais de que não pretende liberar o PSDB local para a chapa do PT no Ceará.

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