Pensando na reeleição, Lira busca acordo em disputa por vaga no TCU
Paulo Sergio/Câmara dos Deputados
Pensando na reeleição, Lira busca acordo em disputa por vaga no TCU

Em uma estratégia já projetando a campanha por mais um mandato à frente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) busca ganhar tempo para construir um consenso em torno do nome que será escolhido pelos deputados para a vaga a ser aberta no Tribunal de Contas da União (TCU). Há cinco nomes na disputa, e o presidente elegeu o seu preferido — mas, por ora, o objetivo é estender o calendário para que a definição ocorra sem fissuras que possam prejudicar o projeto de reeleição no comando da Casa.

Lira tem acordo com o Republicanos para apoiar Jhonatan de Jesus (RR), nome do partido e ex-líder da bancada. Com 42 deputados, a legenda pode ser determinante para que ele, caso conquiste um novo mandato de deputado nas urnas, seja reconduzido à chefia da Casa no biênio 2023-2024. Segundo aliados, Lira quer ganhar tempo na missão de negociar apoio a Jhonatan, que sofre resistência entre os pares. Por outro lado, outros concorrentes também buscam ser apadrinhados pelo presidente da Câmara, a quem cabe marcar a data de votação. Ele tem dito a interlocutores que só pretende agendar o pleito após as eleições gerais, em outubro.

A ministra do tribunal Ana Arraes vai completar 75 anos em julho, quando precisará se aposentar compulsoriamente. O TCU é composto por seis integrantes: metade indicada pelo Senado e outros três pela Câmara.

Embora haja negociações para pacificar a escolha, as movimentações dos deputados interessados na vaga estão em curso. Soraya Santos (PL-RJ) e Hugo Leal (PSD-RJ) também buscam a bênção de Lira. Fábio Ramalho (MDB-MG), por sua vez, tenta uma candidatura independente, buscando votos na esquerda e na direita. Há ainda no páreo o bolsonarista Hélio Lopes (PL-RJ), que deve lançar seu nome como postulante avulso.

Mapa na mão

O adiamento da votação para o fim do ano pode ser estratégico para Lira. Após o primeiro turno das eleições gerais, ele já saberá quais deputados terão sido reeleitos e, com isso, poderá usar a disputa pela cadeira no TCU como instrumento nas articulações para conquistar o apoio necessário à própria reeleição. Procurado, o deputado não quis se pronunciar.

Na corrida pelo posto, Soraya Santos passa por um momento de desgaste interno, apesar de manter boa relação com parlamentares do Centrão, grupo político majoritário a Casa. Alguns correligionários estão insatisfeitos com o fato de que ela querer ser indicada ao TCU e, ao mesmo tempo, empenhar o seu capital político para eleger a filha deputada federal. O ideal, segundo eles, seria dar prestígio aos deputados que buscam a reeleição no Rio.

Fábio Ramalho já tentou duas vezes se eleger presidente da Câmara, sem sucesso. Apelidado de “rei do baixo clero”, ele tem procurado os colegas para pedir votos e, como faz desde sempre, patrocinado banquetes de comida mineira no café da Câmara na hora do jantar, quando há votação na Casa.

"Os deputados veem que eu perdi duas eleições (para a presidência da Câmara) e não mudei em nada. Falam: “A gente deve esse voto para o Fabinho”. O Arthur (Lira) tem que entender que essa campanha não pertence a ele, pertence ao plenário. Mas não quero comprar briga com ninguém. Sei que política é servir os outros e vou estar lá para atender a todos", diz Ramalho.

O líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), pontua que a movimentação nesse momento está restrita aos candidatos postulantes à vaga.

"Os candidatos estão postos. Lira está avaliando para ouvir as pessoas, para ver se coloca a eleição agora ou lá na frente. Mas a movimentação é muito mais dos candidatos e menos dos partidos", diz Isnaldo.

Foco de tensão

O cargo é importante para os parlamentares, principalmente no contexto atual. Recentemente, o tribunal determinou a paralisação de obras em diferentes estados que eram patrocinadas por congressistas por meio de emendas de relator. Trata-se do instrumento por meio do qual deputados e senadores indicaram gastos do governo federal, sem serem identificados. Na semana passada, contudo, o TCU liberou a continuidade das obras.

Ainda assim, a intervenção irritou os deputados, inclusive Lira, embora eles saibam que fiscalizar gastos públicos é justamente a função da Corte. Numa contraofensiva, os parlamentares ameaçam inclusive alterar a legislação para que a interrupção de investimentos só ocorra com o aval do Congresso.

Em um reflexo desse incômodo, o deputado Celso Sabino (União-PA), presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), pediu ao TCU que enviasse sua prestação de contas dos anos anteriores para que o Legislativo fizesse um “pente-fino” sobre os gastos do tribunal.

Com o crescimento das emendas de relator, os congressistas passaram a ter mais poder para canalizar investimentos. Além disso, colhem dividendos políticos e eleitorais a partir das indicações dessas emendas.

Em 2011, a então deputada Ana Arraes (PSB-PE), mãe do ex-governador Eduardo Campos, foi eleita com 222 votos, mas a disputa foi acirrada. O segundo colocado foi o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), também governista à época, com 149 votos. Foram derrotados Átila Lins (PMDB-AM), Damião Feliciano (PDT-PB) e Milton Monti (PR-SP).

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