O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a política ambiental do governo Bolsonaro e defendeu leis mais duras contra a invasão de terras indígenas e a destruição de florestas afirmando que, se for eleito, "não haverá concessões" a garimpeiros.
"Nesse negócio não tem meio termo. A gente tem que ter coragem de dizer: não haverá garimpo em terra indígena neste país. Se o garimpeiro falar "Então não vou votar em vocês", não tem problema. As terras que forem demarcadas como áreas de proteção ambiental terão que ser respeitadas. Não vai ter concessão", afirmou.
As declarações foram dadas em uma reunião da pré-campanha para debater propostas para o meio ambiente e proteção da Amazônia, na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente.
Lula disse que o Estado precisa voltar a assumir a responsabilidade na área ambiental e disse que vai "desfazer" as políticas ambientais do atual governo.
"Primeiro vamos ter que recuperar o patamar que a gente já teve. Essa questão de passar com a boiada, vamos ter que revogar decreto, desfazer tudo o que eles fizeram e cuidar efetivamente com respeito das nações indígenas espalhadas pelo país. Somos nós que devemos a eles, não eles que devem a nós", afirmou.
Lula chamou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles de "desmatador profissional" e fez um aceno a Marina Silva, de quem tenta se reaproximar. Marina foi ministra do Meio Ambiente durante o governo Lula e pediu demissão em 2008 justamente criticando a falta de medidas mais severas contra o desmatamento na Amazônia.
"Acho que acertamos nos ministros, a Marina foi uma extraordinária ministra, o (Carlos) Minc é um companheiro extraordinário, um 'cricri', mas de muita qualidade. E depois a Izabella (Teixeira), que ganhou muita responsabilidade pela eficácia do trabalho dela. E depois aparece um tal de Salles, que ninguém sabe de onde veio. Até achei que era moderninho, usava óculos rosa, e depois soube que era um desmatador profissional", disse Lula.
Lula citou ainda uma declaração desta sexta-feira (3) de Bolsonaro, na qual o presidente falou em "ir à guerra" contra inimigos internos.
"Estamos brigando contra uma parcela da sociedade organizada de forma miliciana. Ontem mesmo no comício no Paraná, o Bolsonaro disse: 'Nós vamos ter que ir para a guerra'. E eles não querem perder", disse.
Lula afirmou que instituições apontadas como sob desmonte no governo Bolsonaro como Conama, Ibama e ICMBio, vão ter que "voltar a funcionar".
"Enfrentar garimpeiro é uma coisa complicada, porque a febre do ouro é uma coisa que faz o cidadão fazer qualquer coisa. O Estado vai ter que estar presente, que vai ter que dizer não pode. Não é o indígena, o seringueiro, o companheiro da cooperativa de castanha que tem que fazer isso. O Estado precisa assumir a responsabilidade. O Ministério vai ter que ter mais gente, uma fiscalização mais forte, uma lei mais dura", defendeu.
O ex-presidente disse ainda que é preciso recuperar o diálogo com estados e municípios, que podem ter ação direta nas ameaças ambientais em seus territórios.
"Fico imaginando nessas queimadas todas que a gente vê e fica discutindo de quem é a culpa, se é do estado, da prefeitura. Não, é preciso chamar o prefeito da cidade da queimada, ele pode ser amigo do fazendeiro, pode ser o próprio fazendeiro", disse. "Se a gente não responsabilizar as pessoas, podem dizer 'Bom, é na minha cidade, mas não é comigo'. Precisamos fazer com que o Estado recupere a relação federativa que já tivemos".
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