O pastor Arilton Moura, suspeito de atuar como lobista no Ministério da Educação (MEC) , esteve 90 vezes na sede da pasta desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro . Já o pastor Gilmar Silva dos Santos, investigado pela mesma prática, esteve 13 vezes na pasta no mesmo período. A partir da gestão de Milton Ribeiro os dois pastores passaram a ter acesso liberado à entrada privativa da pasta, reservada às principais autoridades.
O acesso a essa área restrita continuou mesmo após Ribeiro ter feito uma denúncia à Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a atuação dos dois pastores. Além disso, a maioria dos encontros não tem correspondência nas agendas de Ribeiro e dos demais dirigentes do ministério.
Os dados, repassados pelo MEC por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), são dos registros da entrada principal do ministério e da portaria privativa. Dos 90 registros de entrada de Arilton, 47 ocorreram na segunda categoria. No caso de Gilmar, foram sete entre 13.
Apesar de Arilton frequentar o ministério desde agosto de 2019, foi somente um ano depois que ele passou a entrar pela portaria privativa, em agosto de 2020. A mudança coincide com a chegada de Ribeiro, que assumiu a pasta no mês anterior, em julho.
O pastor indicou na portaria 38 vezes que seu destino seria o gabinete do ministro. Em somente seis dessas datas há registros da presença dele na agenda de Ribeiro. Os encontros continuaram mesmo após a denúncia apresentada por Ribeiro à CGU: ele esteve 13 vezes no gabinete após agosto de 2021 (data em que a denúncia foi feita), sendo 10 delas fora da agenda de Ribeiro.
Gilmar começou a visitar o MEC depois: seu primeiro registro de entrada ocorreu em dezembro de 2020. Depois de cinco visitas no primeiro semestre de 2021, a partir de outubro ele passou a utilizar a portaria privativa. Desde então, ele indicou setes vezes que iria ao gabinete do ministro, sendo que apenas uma dela constou na agenda de Ribeiro.
O MEC disponibiliza em seu site as agendas das principais autoridades: além do ministro, secretários, assessores especiais e diretores. Um cruzamento entre os registros de entrada e as agendas públicas de todos os dirigentes mostra uma correspondência apenas em 19 das vezes em que Arilton esteve no ministério e quatro quando Gilmar visitou a pasta.
Também há a situação inversa: casos em os dois constam na agenda, mas não há registro de entrada. São cinco ocasiões desse tipo com Arilton e outras três com Gilmar.
Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton é assessor de Assuntos Políticos da organização. Os dois intermediaram encontros de prefeitos com Ribeiro. Ao menos três prefeitos relataram que Arilton pediu propina para auxiliar na liberação de recursos para as suas cidades.
Os dois pastores também frequentavam o Palácio do Planalto. Arilton esteve 35 vezes na sede da Presidência desde o início do governo Bolsonaro, enquanto Gilmar visitou o local em outras dez oportunidades no mesmo período.
A atuação dos dois está sendo investigada pela Polícia Federal (PF). O caso levou Ribeiro a pedir demissão do governo, no mês passado.
A advogada Nara Nishizawa, que defende Arilton, afirmou que não irá comentar. O Ministério da Eduação e Gilmar foram procurados, mas ainda não houve retorno.