Marcos Pereira, presidente do Republicanos
Luis Macedo/ Câmara dos Deputados
Marcos Pereira, presidente do Republicanos


Partido da base do governo, o  Republicanos começou a dar sinais públicos de insatisfação com Jair Bolsonaro. Nos bastidores, integrantes da legenda ameaçam nas últimas semanas retirar o apoio ao presidente à reeleição.


Nesta quarta-feira, o presidente da sigla, deputado Marcos Pereira (SP), disse que Bolsonaro “só atrapalha” as negociações em andamento para que o Republicanos atraia novos políticos durante a janela partidária.


Em março, será autorizada a troca de partido sem a perda de mandato, como ocorre sempre em período pré-eleitoral.


— (Estamos) trabalhando bem (para a janela partidária), acho que vai ser bom, vamos sair um pouco maior. Sem a ajuda do presidente (Bolsonaro), por enquanto. Porque até agora ele só atrapalhou — disparou Marcos Pereira.


Como informou a colunista do GLOBO Bela Megale, Marcos Pereira teve uma conversa dura com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na semana passada.


Aliados de Pereira relataram que o líder do Republicanos criticou a postura de Bolsonaro e da coordenação de sua campanha sobre a filiação de candidatos ligados ao presidente. Pereira tem defendido que os partidos que integram a base governista precisam “dividir o bolo” de filiações para que as bancadas federais de todos cresçam.


Ele afirmou a Flávio, no entanto, que seu pai e o grupo que o cerca não fazem movimentos para levar ninguém ao Republicanos e que ambos têm ido além, assediando políticos ligados à legenda para migrarem para o PL, sigla de Bolsonaro.


Nas últimas semanas, parlamentares próximos ao presidente procuraram Flavio Bolsonaro, o principal nome na campanha à reeleição do presidente, para expor o desconforto de partidos aliados e argumentar que o PL não terá condições de bancar a campanha de todo mundo.


Nesta quarta-feira, o ministro da Cidadania, João Roma, filiado à sigla e pré-candidato ao governo da Bahia, esteve na Câmara dos Deputados para conversar com colegas do partido. Na saída, antes de Marcos Pereira criticar Bolsonaro, Roma disse esperar que haja uma reaproximação com Bolsonaro.


— Quem decide (sobre apoio na eleição) é o presidente (do partido, Marcos Pereira). Eu espero que a gente possa apoiar o presidente Bolsonaro — disse o ministro.


Marcos Pereira também disse não acreditar que o governo seja contra o projeto que legaliza os jogos de azar, que pode ser votado nesta noite.


Na noite de terça-feira, Bolsonaro enviou mensagens de texto a parlamentares pedindo voto contrário ao projeto. Perguntado sobre o assunto, o presidente do Republicanos disse que a legenda se posicionará de forma contrária à matéria.


Ele não deixou de registrar, porém, que integrantes do governo trabalham a favor da proposta, mesmo com a indicação de que Bolsonaro vetaria a legislação.


— Acho que tem voto para passar, pelo que ouvi do presidente Arthur Lira. O governo, pelo que ouvi, vai vetar. Será que (o governo) é contra? Eu ouvi de algumas pessoas ligadas ao governo o pedido para apoiar. Porque, no fundo, eles são favoráveis. Só não querem se expor diante da população — disse o deputado.


Perguntado se havia recebido mensagem do presidente, ele recorreu à ironia.


—  Não sei, não vi. Estou cheio de mensagens atrasadas. É que ele manda bastante mensagem. Eu olho quando tenho tempo.


Marcos Pereira também evitou dizer se o Republicanos será neutro na disputa presidencial.


— Quem responde isso é o partido no momento oportuno. Temos tempo. Quem tem tempo não tem pressa.


Mais do que ter representação no Palácio do Planalto, Pereira sempre priorizou o aumento da bancada do Republicanos a cada eleição — que passou de 1 em 2006 a 32 em 2018. No pleito anterior, a sigla foi a que mais cresceu depois do PSL.



Em 2022, no entanto, a perspectiva não é animadora. Isso porque o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe saiu espalhando que só ajudará na campanha os parlamentares que migrarem ao PL, segundo parlamentares que acompanham as negociações.


A orientação acabou irritando Pereira, que pode perder 10 parlamentares na janela partidária.

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