A morte do escritor Olavo de Carvalho nesta segunda-feira (24), enlutou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. O mandatário chegou a decretar luto oficial de um dia em todo o país na terça-feira, 25.
O governo federal também emitiu nota oficial para lamentar o falecimento do ideólogo, que foi um dos grandes influenciadores na formação da chamada "nova direita", que impulsionou a eleição do presidente. Contudo, a relação entre o escritor e o chefe do Executivo se deteriorou ao longo da gestão, após o pleito de 2018.
Em uma de suas últimas aparições, Olavo de Carvalho não poupou críticas a Jair Bolsonaro. Ele chamou o mandatário de "covarde" e apostou que "a briga está perdida" em 2022. Extremista, Carvalho inspirou o chamado "bolsonarismo raiz" e tinha grande influencia sobre a ala ideológica do governo.
A influência do "guru do Bolsonarismo", como Olavo era chamado, mostrou-se evidente ainda no início do mandato de Bolsonaro, que indicou dois ministros bastante próximos ao escritor - Ernesto Araújo, ex-titular das Relações Exteriores, e Ricardo Vélez, ex-chefe da Educação.
Poucos meses após a vitória de Bolsonaro, Olavo de Carvalho já apontava oas falhas na gestão do presidente. Em março de 2019, o escritor compareceu a um evento organizado pelo ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon. Lá, afirmou que amava o chefe do Planalto, mas que o governo ia mal por estar cercado de militares "traidores" - e ainda chamou o vice-presidente Hamilton Mourão de "idiota".
Leia Também
Em maio de 2020, conforme o governo ia acumulando polêmicas, Olavo de Carvalho afirmou à BBC Brasil que era possível chamar Bolsonaro de "burro". Disse, porém, que ele não era ladrão. Em junho daquele ano, acrescentou os adjetivos "fraco" e "covarde" quando se referia ao presidente.
"Quer levar um processo de prevaricação da minha parte? Se esse pessoal não consegue derrubar o governo, eu derrubo" , escreveu no Twitter. Na mesma ocasião, disse que continuava ao lado do presidente, mas que não traria mais "palavras doces".
No ano passado, Olavo de Carvalho foi o protagonista de vários embates com o governo federal. Chegou a dizer a aliados, em mais de uma ocasião, que se sentia abandonado pelo presidente, seu fiel aluno. O escritor dizia estar decepcionado com Bolsonaro por considerar ter sido usado por ele como uma espécie de "garoto propaganda" na campanha.
No mês passado, Olavo voltou a chamar o presidente da República de "covarde", "prefeito do interior" e ainda que ele não terá chances nas eleições deste ano. O escritor afirmou que a "briga já está perdida", mas que defendia voto em Bolsonaro por "falta de opção".
Diante do falecimento do escritor, a nota de pesar divulgada pelo Palácio do Planalto o descreve como "intransigente defensor da liberdade", que deixa como legado "um verdadeiro apostolado a respeito da vida intelectual".