Ônibus incendiado em João Pessoa é um dos episódios de violência registrados na Paraíba nos últimos dias
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Ônibus incendiado em João Pessoa é um dos episódios de violência registrados na Paraíba nos últimos dias

Com a segurança pública em pauta na  Paraíba, o deputado estadual Cabo Gilberto (PSL), ligado ao bolsonarismo, insuflou policiais militares a aderirem a um movimento contra o governador João Azevêdo (Cidadania), a quem chamou de "inimigo".

Em áudios vazados, o parlamentar sugere que os agentes entreguem os plantões extras e, se estiverem de folga, "ajudem a sociedade", o que incluiria atirar em criminosos. Com o policiamento comprometido, o estado registrou uma escalada na violência nos últimos dias. Entre os episódios, estão uma onda de assaltos na cidade de Patos e um ônibus incendiado neste domingo na capital João Pessoa.

A declaração incita os policiais a se unirem ao movimento que reivindica melhorias nas condições de trabalho e de salários à classe, proibida por lei de realizar greves. Segundo a Constituição, Forças Armadas e policiais militares estão impedidos de paralisarem suas atividades. Isso porque entende-se que se trata de serviços essenciais à sociedade e, portanto, sua suspensão prejudicaria a população.


"Meus irmãos, policiais e bombeiros militares, neste domingo, precisamos que todos façam o que a guarnição de ontem fez. Se uniram ao movimento Polícia Legal, tudo dentro da legalidade. Estamos em guerra. O governador é nosso inimigo. Ele não respeita a instituição, humilha os militares, engana os militares, tenta passar para a sociedade que nós que somos intransigentes. Socialista não gosta de polícia, odeia militar. Não existe diálogo com esse tipo de gente. Eles só entendem pressão, e temos que pressionar", disse o deputado.

No áudio, divulgado pelo Blog do Dércio e ao qual o Globo teve acesso, o parlamentar reforça que os policiais dispensem os plantões extras para fortalecer o movimento em todo o estado e pede para que aqueles que estiverem de folga atirem caso se deparem com um "marginal armado". Procurado, Cabo Gilberto não retornou até esta publicação.

"A guarnição de domingo, como foi combinado, (vai) entregar os plantões extras e vamos unir o movimento dentro da legalidade. Façam as mesmas coisas que os do plantão de sábado fizeram. Isso em toda a Paraíba. É muito importante para que nosso movimento fique forte a cada dia, dentro da legalidade, já que não podemos fazer greve. Então essa é a nossa missão. E todos os policiais que estiverem de folga ajudem a sociedade. Marginal armado atirando... Quem atira para matar leva tiro para morrer. Essa é a nossa missão", afirma.

Nas redes sociais, o deputado já havia conclamado prefeitos paraibanos a cobrarem o governador pelo "caos na segurança pública". "Toda criminalidade que acontecer no estado a responsabilidade é de inteira do Sr governador JOÃO MALVADEZA que exterminou os militares", disse em um dos post.

Azevêdo, que faz oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e migrou do PSB para o Cidadania em 2019, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais nesta segunda-feira que não vai admitir "greve branca" nem que políticos usem "policiais para confrontos inconstitucionais e fora de propósito".

"Não admitirei coisas do tipo como operação padrão ou greve branca, como foi insinuado em áudios e vídeos por quem está na política e tenta usar os policiais para confrontos inconstitucionais e fora de propósito. Policial é para combater o crime, promover a paz social e proteger a sociedade. E não para fazer política partidária e eleitoral nos quartéis e dentro da categoria", disse.

"Não me furtarei em nenhum momento a acionar o Ministério Público e a Justiça paraibana, se for o caso, para restabelecer as funções hierárquicas e constitucionais das forças de segurança. Espero não ter que fazê-lo, mas para manter a ordem e a convivência harmônica da sociedade paraibana jamais fugirei às minhas responsabilidades".

O governador disse ainda que mantém diálogo com a categoria e afirmou que a menor remuneração de um soldado será de R$ 4.206, 87. O valor, incluindo plantões extras, pode chegar a R$ 6.800 ou até mesmo exceder R$ 8.000 se eles ocorrem em finais de semana.


O caso se soma a mais um movimento organizado por grupos dentro da PM nos estados durante o governo Bolsonaro. Em 2020, um motim realizado por policiais militares no Ceará reacendeu o debate sobre o veto a paralisações de servidores de segurança pública.

Na ocasião, o governador Cid Gomes (PDT) foi baleado após tentar invadir com uma retroescavadeira um quartel ocupado por PMs em Sobral. O cenário culminou no envio das Forças Armadas ao estado.

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