O racha entre bolsonaristas, até então restrito aos bastidores, virou um bate-boca público. Em uma publicação feita em seu Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atacou os irmãos Arthur e Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, e disse que engolia sapos para ver se ambos "se corrigiam".
A publicação de um dos filhos do presidente, exatamente o mais próximo dos Weintraub, foi vista como um sinal da divisão definitiva da ala mais radical apoiadora de Bolsonaro.
"Esta thread (sequência de tweets do secretário da Cultura Mario Frias) explica muito do que estava ocorrendo nos bastidores. Não se trata de dividir/unir a direita, mas separar o joio do trigo. Todo este tempo que nós engolíamos sapos na verdade era a chance para eles se corrigirem, mas nada foi feito. Então agora está aí, tudo às claras", escreveu Eduardo.
Pouco depois, ao comentar a resposta de um influenciador de direita, que questionou o deputado por estar endossando ""futuras prisões de gente que não cometeu crime", Eduardo sugeriu que a indicação de Weintraub para o Banco Mundial, em 2020, teria sido para evitar uma prisão.
"Se endossássemos prisões arbitrárias, Abraham jamais teria ido aos EUA junto com seu irmão", escreveu Eduardo.
Nesta semana, durante uma live, Abraham Weintraub, assim como o ex-chanceler Ernesto Araújo, atacaram a aliança de Bolsonaro, filiado ao PL, com o Centrão. Conforme o Globo revelou, em conversas com aliados, Bolsonaro tem comparado Weintraub a outros ministros que racharam com o governo, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). Procurados, Abraham Weintraub e Ernesto Araújo não responderam ao Globo.
Nos últimos dias, a briga entre a os integrantes da ala ideológica já vinha elevando a temperatura da confusão. Pessoas do entorno do presidente acusaram os Weintraub de "oportunistas" e de nunca terem sido alunos do filósofo Olavo de Carvalho, guru bolsonarista.
O estopim da briga pública ocorreu após os irmãos Weintraub compartilharem uma publicação curtida por Mário Frias, secretário de Cultura, e um dos aliados mais próximos de Eduardo Bolsonaro. O post dizia que Weintraub seria preso "em breve" para ficar com a imagem de "herói e vítima".
"Ela defende minha prisão ilegal, por defender a liberdade e o combate à corrupção, e apoiando o STF? Em outro post, ela menosrepza outras prisões ilegais. Mário Frias, secretário do governo, curtiu? Espero que tenha sido engano", escreveu Weintraub.
Na sequência, Frias respondeu a Weintraub e a seu irmão, Arthur:
"Não entendi, Abraham e Arthur, por que estão chateados com uma curtida? Quantas vezes vocês deram aquela curtida marota em inúemros perfis que chamam o presidente de frouxo, covarde e vendido para o sistema? Não gostaram da brincadeira de oposição sonsa?", afirmou.
Apesar da discussão sobre as alianças do presidente e o purismo ideológico dos seguidores de Bolsonaro, o pano de fundo da cisão entre a ala ideológica do bolsonarismo é, na verdade, eleitoral.
Na última semana, Weintraub voltou ao Brasil para articular sua campanha ao governo de São Paulo. Os planos do ex-ministro da Educação, entretanto, vão de encontro ao do presidente, que decidiu lançar Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, para o cargo.
Nesta quarta-feira, o presidente Bolsonaro adicionou um novo ingrediente à briga. Em resposta a uma pergunta de Ricardo Salles, outro ex-ministro em uma entrevista, o presidente resolveu revelar um convite para a ministra Damares Alves ser candidata ao Senado em São Paulo. O presidente também citou a possibilidade do próprio Salles ser o candidato.