Sem uma diretriz estabelecida pelo Ministério da Educação, estados estão fortalecendo as estratégias para conter a evasão escolar e apostando no reforço do aprendizado para o novo ano letivo. Entre as maiores preocupações está a alfabetização dos menores , que no período das aulas remotas ocorreu de forma ainda mais desigual, e os efeitos socioemocionais da pandemia da Covid-19 .
O recente avanço da variante Ômicron traz incerteza sobre o retorno das aulas, mas até o momento a maior parte das redes diz que vai manter o calendário estudantil. Especialistas ouvidos pelo Globo reforçam a necessidade do retorno, ainda no sistema de bolhas, e sugerem a suspensão apenas se houver casos positivos na escola, como ocorre na maior parte da Europa.
No campo das iniciativas para conter a evasão, há desde contratação de mais professores até a separação das turmas entre os estudantes que aprenderam e os que estão com dificuldades. Outras medidas experimentadas por alguns estados no ano passado se espalharam para mais cantos do país, como as bolsas e a busca ativa.
Lucas Hoogerbrugge, líder de Relações Governamentais do Todos Pela Educação, diz que a falta de coordenação do MEC atrasou a resposta das redes, mas ajudou a ter ações diversas.
"Houve muita inovação metodológica. Porém, na ausência de uma coordenação nacional, muitos ficaram sem apoio e não conseguiram enfrentar os desafios. Por isso, teremos um retorno muito desigual."
No Rio de Janeiro, a aposta é no projeto M.A.E — Mulheres Apoiando a Educação, que vai contratar cerca de 9,4 mil mulheres para dar suporte à equipe pedagógica e social das escolas. O salário mensal é de R$ 1 mil por um ano e, segundo a secretaria, o propósito é garantir a presença dos estudantes e ajudar as famílias.
Foco na recuperação
A rede paulista, que no ano passado também investiu em auxílios, vai direcionar esforços para a recuperação. Além de aulas, já neste mês, para os alunos que não apresentaram as atividades necessárias no ano passado, a rede vai permitir o agrupamentos de estudantes por nível de aprendizado.
O programa, chamado Aprender Juntos, foi aplicado em versão piloto em 26 escolas em 2021 e colheu bons resultados, segundo o secretário da Educação de São Paulo, Rossieli Soares:
"A organização das turmas continua heterogênea no dia a dia, mas em alguns momentos, para beneficiar a aprendizagem, dividimos os alunos. É uma organização provisória, até que haja nivelamento", disse ele.
Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV, afirma que a estratégia de desenturmar alunos vem sendo utilizada em outras redes, inclusive municipais, assim como a realfabetização de estudantes do 4º e 5º anos.
"Para os que não se alfabetizaram, pode justificar uma solução temporária nesta direção. Por exemplo, para alunos de 4º a 6º ano, pois caso não tenham se alfabetizado, podem não conseguir acompanhar a classe e acabar abandonando a escola", diz ela.
A gestão paulista também vai contratar professores alfabetizadores para o 6º ano e estuda reforçar o time de psicólogos. para cuidar do emocional dos estudantes.
"Pela primeira vez vamos ter uma quantidade de alunos com tantos desníveis, seja cognitivo ou emocional", afirma Rossieli.
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O mesmo desafio mobilizou o Mato Grosso do Sul, que vai fazer escuta ativa nas unidades escolares. Já a Bahia, decidiu incluir uma refeição a mais por turno para ajudar no combate à evasão escolar e garantir a segurança alimentar das crianças. O estado é um dos que adotam a estratégia de busca ativa, que tenta recuperar estudantes evadidos.
No Ceará, a busca recuperou 12.798 alunos entre setembro e dezembro de 2021. Lá, o programa tem ajuda dos alunos-monitores, que recebem R$ 200 mensais para trazer colegas.
Uma das beneficiadas foi Ana Patrícia Silva Ferreira, de 26 anos. Moradora de Penaforte, no extremo sul do Ceará, ela deixou os estudos para cuidar dos filhos. Mas em julho do ano passado, após incentivo da escola, voltou para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Com o plano de cursar Letras após se formar, Ana foi convidada a participar do programa e conseguiu trazer de volta 12 colegas.
"Sei das dificuldades que os alunos que abandonaram o ensino estavam passando. Com o meu testemunho, eles se identificavam e se encorajavam a voltar."
Em Alagoas, a busca ativa garantiu a redução de 68% da evasão escolar em todo o ensino público estadual, que já chegou a registrar 35 mil alunos evadidos na pandemia.
Este ano, o plano do estado para evitar desistências é o Cartão Escola 10, que paga R$ 2 mil aos estudantes que concluírem o ensino médio regular e da (EJA), além de R$ 100 mensais aos alunos com frequência acima de 80%.
Programa federal
Melhora da infraestrutura, distribuição gratuita de absorventes, capacitação de professores e oferta de cursos a distância são outras estratégias que devem ser adotadas pelos estados.
Para combater a evasão, o MEC lançou um programa de R$ 200 milhões, que podem ser usados de acordo com as necessidades das escolas. Em 2021, o “Brasil na Escola” beneficiou 2,1 milhões de estudantes com R$ 80,9 milhões, uma média de R$ 38 anuais por aluno.
"É pouco, se considerar que o custo por aluno ano é de cerca de R$ 5 mil por ano", afirma Hoogerbrugge.
A pasta afirmou que a iniciativa é uma “ação complementar de apoio às escolas” e informou que deve pagar, neste ano, cerca de R$ 120 milhões.