Ao iniciar 2022 em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentará um feito raríssimo para um chefe do Executivo em busca da reeleição: conseguir o segundo mandato começando o ano eleitoral em desvantagem na corrida.
Desde que a possibilidade de permanecer oito anos consecutivos no poder passou a ser permitida, presidentes e governadores que buscavam ser reconduzidos — e, ao final, conseguiram o objetivo —, via de regra, entraram em janeiro do ano do pleito à frente dos adversários.
Levantamento do Globo com base em pesquisas realizadas desde 1998, quando a reeleição foi autorizada, nas campanhas à Presidência e a governador nos cinco maiores colégios eleitorais mostra que a única exceção foi Mário Covas (PSDB), reeleito em São Paulo, apesar de figurar em terceiro lugar, com 15% das intenções de voto, no levantamento Datafolha realizado em dezembro de 1997 — Paulo Maluf (PPB) e Francisco Rossi (PDT) apareciam à frente.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, Lula (PT), em 2006, e Dilma (PT), em 2014, lideravam as intenções de voto no início do ano em que buscavam permanecer no poder — ao fim, conseguiram ser reeleitos. Em março de 1998, FH tinha 41% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Em janeiro de 2006, de acordo com o Ibope, Lula liderava com 35%. Já em fevereiro de 2014, Dilma aparecia à frente, com 47%.
No entanto, em 2022, o cenário é diferente. A pesquisa Datafolha mais recente, de dezembro, mostra que Bolsonaro tem 22%, em segundo lugar, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 48%. O ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) tem 9%, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) soma 7%, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece com 4%.
"Bolsonaro tem atuado ativamente em defesa dos seus grupos de apoio mais radicais, com uma agenda muito própria e declarações que agradam muito mais o seu eleitorado cativo do que a população geral. Isso pode ajudar a levá-lo para o segundo turno, por concentrar o discurso na sua bolha, que é em torno de 20%, mas não o coloca como favorito", analisa o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad) da Uerj.
Nos cinco maiores estados brasileiros em número de eleitores, a tendência no pleito ao comando do Executivo se repete. Nas seis vezes em que os então governadores de São Paulo, Rio, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul buscaram — e conseguiram — a reeleição, em apenas uma delas o candidato não estava em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais do início do ano do pleito ou do fim do ano anterior — Covas, em 1998.
Nos outros cinco casos, os candidatos à renovação de mandato que obtiveram sucesso nas urnas lideravam os levantamentos de Datafolha ou Ibope: Geraldo Alckmin (ex-PSDB), em 2014, para o governo de São Paulo; Sérgio Cabral (ex-MDB), em 2010, no Rio; Aécio Neves (PSDB), em 2006, para o governo de Minas Gerais; e dois episódios na Bahia, com Jaques Wagner (PT), em 2010, e Rui Costa (PT), em 2018.