Faltando cerca de nove meses para as eleições de 2022, as pesquisas eleitorais mostram um tabuleiro ainda incerto, mas com uma tendência de protagonismo para os partidos de centro nas eleições estaduais. O cenário, porém, pode ainda passar por transformações, uma vez que as legendas ainda estão em processo de formação de palanques e as eleições presidenciais devem influenciar fortemente as disputas nos estados.
O iG analisou as últimas pesquisas eleitorais realizadas nos 26 estados do Brasil, além do Distrito Federal. O levantamento mostra que, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, partidos de centro ou centro-direita como MDB, PSD e União Brasil (fusão do DEM com o PSL) seguem com musculatura para o próximo pleito, como foi em 2018, liderando pesquisas no Pará, com Helder Barbalho (MDB); Rondônia, com Marcos Rocha (PSL) e Marcos Rogério (DEM); e Roraima, com Teresa Surita (MDB).
Segundo Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, isso mostra um "cansaço da polarização", movimento que já pôde ser observado em partes nas municipais de 2020. Além disso, o especialista vê uma demonstração de capilaridade dos partidos de centro.
"Fizeram a lição de casa nas eleições municipais, criaram lideranças, se estabeleceram em municípios, capitais e, agora, estão colhendo frutos nessas eleições de 2022. Se você pegar os partidos que tiveram tração em 2020, muitos deles são os que estão se consolidando nas pesquisas."
As legendas de esquerda, por sua vez, têm maior força na região Nordeste, que, atualmente, tem quatro estados governados por representantes do Partido dos Trabalhadores (PT), BA, CE, PI e RN, enquanto PE e MA são governados por políticos do PSB.
As pesquisas divulgadas até o momento mostram que o PT segue forte nas disputas por Pernambuco, com Marília Arraes liderando cenários, assim como Rafael Fonteles no Piauí e Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte. Na Bahia, o atual governador Jacques Wagner aparece em segundo lugar, brigando com ACM Neto.
A mudança mais significativa observada nas últimas pesquisas é a possível perda do domínio da centro-direita nas regiões Sul e Sudeste. Atualmente, nas duas regiões, apenas o Espírito Santo é governado por um partido de esquerda (Renato Casagrande, PSB). Para 2022, é possível ver uma disputa mais acirrada.
Leia Também
Leia Também
No Espírito Santo, o PSB mantém competitividade, representado por Renato Casagrande. No Rio de Janeiro, Freixo (PSOL) lidera alguns cenários. No Rio Grande do Sul, Manuela D'Avilla (PCdoB) e Edegar Pretto (PT) mostram força e, em São Paulo, com um cenário ainda bastante indefinido, Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) mostram capilaridade.
A influência da esquerda é menor no Paraná, que mostra Ratinho Junior (PSD) com apoio para se reeleger e em Santa Catarina, cujas pesquisas mostram Comandante Moisés (PSL) na liderança, seguido por Jorginho Melo (PL). Já em Minas, o PT deve apoiar o prefeito Alexandre Kalil (PSD), que aparece na segunda colocação nas pesquisas atrás de Romeu Zema (Novo).
PT prioriza candidatura de Lula e bolsonaristas derrapam
A disputa pelos governos estaduais mostra que o PT dará maior ênfase no projeto nacional de candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto.
Diferentemente de 2018, quando a legenda lançou 16 candidatos, neste ano o partido se mostra disposto a abrir mão de grandes colégios eleitorais, como Minas Gerais e, possivelmente, São Paulo — caso a aliança com Geraldo Alckmin seja formalizada e o partido apoie Márcio França (PSB) no estado.
"A estratégia muda porque o Lula está na cédula. Ele é um player importante, está frequentando as pesquisas eleitorais em uma posição de liderança já há algum tempo e, sobretudo neste momento, precisa de acordos para fazer com que essa candidatura decole e, uma vez vencedora, que ele governe. Por isso, precisa ceder alguns pontos-chave, inclusive nas composições estaduais e até para ter uma bancada mais confortável no senado para conseguir governabilidade", explica Consentino
Quanto aos candidatos bolsonaristas, o clima é de indefinição. Pelo menos onze ministros de Bolsonaro podem deixar o governo para lançar candidatura estadual. Destes, apenas Onyx Lorenzoni se consolida como pré-candidato, figurando na segunda colocação nas pesquisas do Rio Grande do Sul. Outras figuras importantes do governo como Marcelo Queiroga, que pode concorrer na Paraíba, João Roma, na Bahia e Tarcísio de Freitas, por enquanto, não empolgam.