Em busca de unidade partidária após uma guerra interna nas prévias, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, aceitou o convite do governador de São Paulo, João Doria, para ser o coordenador de sua campanha à Presidência da República. A escolha de Araújo é o gesto mais recente de Doria para atrair apoio de correligionários e evitar uma debandada no partido.
O presidente da sigla tem perfil conciliador e é um dos poucos líderes tucanos com capacidade de diálogo com diversas alas do partido, inclusive com o deputado mineiro Aécio Neves, principal rival de Doria na legenda.
Embora tenha negado publicamente, aliados afirmam que Aécio não descarta deixar o partido, ainda que haja em curso uma articulação para estabelecer algum tipo de convivência entre o paulista e o mineiro na sigla. Aécio sempre defendeu que o partido não tenha candidato a presidente para que sobrem mais recursos e a sigla possa fortalecer sua bancada no Congresso.
Tucanos experientes avaliam que com a coordenação de Araújo, Doria teria mais condições de quebrar resistências e unir as lideranças em torno de seu nome. Ele assumiu a presidência do partido em 2019 com o apoio de Doria. Depois disso, a relação entre ambos chegou a se estremecer após aliados do paulista terem defendido que Doria o substituísse na presidência do PSDB.
Recentemente, porém, os dois se reaproximaram e mesmo com o acirramento das prévias, Araújo procurou agir de forma equilibrada para que a disputa não colocasse em xeque o seu comando na legenda.
"Enquanto presidente nacional tenho que assumir a responsabilidade por inteiro. Me sinto impelido para construir e ajudar a coordenar esse processo", disse Araújo ao GLOBO.
O governador paulista já deu outros sinais de tentativa de conciliação. No mês passado, aliados de Doria abriram mão de participar da disputa para líder da bancada tucana na Câmara em favor do deputado Adolfo Viana (PSDB-BA). Viana é próximo da bancada mineira do partido e atuou fortemente na campanha das prévias do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que acabou derrotado.
A desistência dos deputados do grupo de Doria foi lida internamente como uma forma de reunificar o partido e uma concessão ao grupo que fora rival nas primárias.
Em outro movimento para aparar arestas, Doria já havia se reunido com Leite. Segundo um interlocutor, o paulista também já havia procurado reforçar laços com o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, cujos aliados também trabalharam na campanha do gaúcho na disputa interna tucana.