Ministro indicado por Bolsonaro para embaixada é alvo de pedido de suspeição
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Ministro indicado por Bolsonaro para embaixada é alvo de pedido de suspeição

Indicado por Jair Bolsonaro para comandar a  embaixada do Brasil em Portugal, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Raimundo Carreiro, relator da fiscalização dos gastos do cartão corporativo do presidente, foi alvo de um pedido de suspeição protocolado na manhã desta sexta-feira no TCU pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO), integrante da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.

Em maio, o colegiado solicitou ao TCU uma auditoria nas despesas sigilosas do cartão utilizado pelo presidente da República para alimentação, hospedagem, transporte e entretenimento. O processo, conduzido por Carreiro, tramitou sob sigilo e foi concluído no dia 28 de setembro. Desde então, o caso se encontra à espera de um despacho do ministro para ir ao plenário.

No último dia 4 de novembro, durante cerimônia de abertura do leilão do 5G, Bolsonaro fez elogios públicos a Carreiro.

"Não tem quem não seja apaixonado pelo Carreiro, não tem", disse o presidente, que acrescentou: "É uma das pessoas que marcou a posição nesse evento, desde quando trabalhava no Senado. Amigo de todo mundo. Se Deus quiser, vai para Portugal brevemente. Não por minha vontade. Por mim, não iria. Mas vai, porque merece", completou.

De acordo com Elias Vaz, a indicação de Carreiro feita por Bolsonaro pode configurar um conflito de interesses, já que o ministro do TCU está fiscalizando os gastos do cartão corporativo do presidente.

"Carreiro não pode continuar nesse processo, investigando o presidente, sendo que ele agora está sendo indicado para um cargo pelo próprio Bolsonaro. Eu vejo com muita preocupação isso. Eu acho que um ministro que está tendo esse tipo de relação com o presidente deveria se declarar suspeito e colocar outro ministro para julgar. Diante das circunstâncias, a melhor saída é o reconhecimento da suspeição", afirma Elias, autor do pedido de suspeição do ministro do TCU.

Procurado, o ministro Raimundo Carreiro disse ao GLOBO que não se sente impedido de continuar na relatoria do caso do cartão corporativo de Bolsonaro.

"Me sinto bastante à vontade para relatar todos os processos da presidência da República. Essa auditoria demora um tempo. É um processo enorme. Tem de 80 a 90 páginas. Eu recebi deve ter uma semana, duas semanas. Já mandei pautar pois eu quero julgar. Eu quero julgar".

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Carreiro ainda disse que conhece Bolsonaro "de 1991 até os dias de hoje" e agradeceu ao presidente da República pelos elogios recentes.

"Sobre o elogio de Bolsonaro a mim, eu fiquei muito lisonjeado, pois tenho 52 anos de serviço público. Se o presidente da República reconheceu, eu só posso ficar grato".

No dia 9 de novembro, a colunista Malu Gaspar antecipou que o governo português havia concedido o agrément para a indicação de Carreiro à embaixada do Brasil em Portugal. O documento chancela a indicação do presidente. O ministro do TCU deve substituir Carlos Alberto Simas Magalhães, que deve ser enviado a outro posto.

Aumento dos gastos

No pedido de suspeição de Carreiro, o parlamentar destaca que a família do presidente da República vem tendo gastos recordes com cartão corporativo, a um custo médio mensal de R$ 1,5 milhão. Em 2019, a despesa foi de R$ 14,8 milhões. Em 2020, saltou para 19,1 milhões. Neste ano, até outubro, o custo acumulado soma R$ 14,4 milhões com os cartões da Presidência.

"Não há motivo para esse gasto ser sigiloso. O sigilo seria apenas para aquilo que afetasse a segurança do presidente. A transparência é a regra, e o sigilo é a exceção", afirma Elias Vaz.

Antes de ser eleito presidente, Bolsonaro foi um crítico dos gastos com cartões corporativos e da possibilidade de impor sigilo aos extratos. Em discurso na Câmara dos Deputados, no ano de 2008, ainda como parlamentar, ele desafiou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a "abrir os gastos" com o cartão corporativo. Em uma live em agosto de 2019, Bolsonaro prometeu divulgados seus gastos pessoais com o cartão corporativo, algo que nunca aconteceu.

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