Um ano e meio após deixar a Executiva Nacional e no momento em que o partido vive uma crise de desfiliações na sigla, João Amoêdo quer agora voltar à direção do Novo, partido que ajudou a fundar e pelo qual foi candidato à presidência em 2018. Em e-mail enviado aos membros do Diretório Nacional no último sábado, o ex-presidenciável se coloca "à disposição para retornar, de imediato" ao comando sigla e assim ajudar na "consolidação partidária e no pleito de 2022".
Oficialmente oposição ao governo de Jair Bolsonaro, a legenda vive uma racha interna com os mandatários que apoiam o presidente, especialmente na bancada federal e em Minas Gerais, estado governado por Romeu Zema. Ao GLOBO, Amoêdo disse não considerar "razoável" que integrantes bolsonaristas saiam candidatos pelo partido no ano que vem.
"Quero voltar para ajudar o Novo a ter uma unidade maior. O posicionamento do partido hoje é distinto da bancada federal e isso gerou uma confusão nas pessoas, que não sabem se o Novo é oposição ou uma linha auxiliar do governo Bolsonaro. Essa indefinição teve como reflexo a perda de filiados", disse o empresário ao GLOBO.
Para Amoêdo, a condição de "oposição" a Bolsonaro é uma diretriz do partido e deve ser seguida pelos mandatários. Caso contrário, pode-se passar uma leitura "dúbia" para os eleitores, que devem saber com clareza no ano que vem se estão votando em um partido que apoia ou não o atual governo.
"O roteiro que eu implementaria se estivesse no diretório seria, primeiro, ter uma conversa muito objetiva com os nossos deputados federais, mostrando os diversos pareceres de juristas que colocam os crimes de responsabilidade praticados por Bolsonaro. Se não chegarmos a um consenso, não me parece razoável que essas pessoas que têm uma visão tão distinta sobre um tema tão relevante saiam candidatas pelo partido em 2022", afirmou.
Amoêdo deixou a presidência do Novo em março do ano passado, após Eduardo Ribeiro ser eleito o novo comandante da sigla. Apesar de ter um mandato na direção nacional até 2023, o empresário optou por se afastar da direção da sigla. Ao GLOBO, ele disse que deixou o partido para ter mais "tranquilidade" no dia a dia e também porque considera importante a legenda não depender de um "dono" ou "salvador da pátria" para existir.
"Com o e-mail, quero deixar claro duas coisas: primeiro, me colocar à disposição para voltar a trabalhar pelo partido após um ano e meio fora. E também deixar claro que, diferente do que muitos dizem, eu não mando no partido. Se mandasse, não precisava pedir para voltar", disse Amoêdo.
O pedido de retorno, que depende da aprovação dos membros do Diretório Nacional, tem como pano de fundo uma crise interna no partido. Na semana passado, o empresário Christian Lohbauer, que foi vice de Amoêdo na chapa presidencial de 2018, anunciou a sua desfiliação e disse que o Novo "se perdeu completamente na administração do partido". Atrelado a isso, a sigla também vive uma "fuga de filiados": em um ano e meio, perdeu cerca de 10 mil apoiadores, uma redução de 21%.
As divisões também ficaram claras com a desistência, por parte de Amoêdo, da pré-candidatura à presidência em 2022. Em 1º de junho, a legenda anunciou que o empresário havia aceitado o convite “de 36 dos 40 integrantes da convenção nacional” para ser pré-candidato à disputa. Nove dias depois, no entanto, ele abandonou o projeto por “acontecimentos subsequentes” ao anúncio.
Atualmente longe do partido, Amoêdo continua participando das conversas para a construção de uma "terceira via", alternativa às candidaturas de Lula (PT) e Bolsonaro, atuais líderes das pesquisas. O empresário avalia, no entanto, que o diálogo avançou menos do que ele gostaria, especialmente pela resistência em partidos que têm alas bolsonaristas.