Na campanha eleitoral de 2018, então candidato a vice de João Amoêdo à presidência da República, o empresário Christian Lohbauer definiu o Partido Novo como "um partido político de verdade, totalmente diferente dos outros". Três anos depois, ele joga a toalha e entra para um movimento de debandada que já arrancou quase um quarto dos filiados à sigla no último um ano e meio.
Um dos fundadores do Novo, Lohbauer publicou um vídeo em seu Facebook, na última quinta-feira, anunciando sua desfiliação. Ele afirmou que a legenda "não o representa mais" e responsabilizou os dirigentes, ala sob influência de Amoêdo, pela "derrocada" do partido.
Na gravação de 11 minutos, Lohbauer declarou que o Novo "se perdeu completamente na administração do partido" e criticou o ex-aliado Amoêdo por seu "individualismo absoluto ao emitir opiniões", sem levar em conta a opinião dos parlamentares da sigla. Ele mirou também em Eduardo Ribeiro, o presidente nacional.
"Nunca se viu um partido político onde os mandatários não tem voz, e um grupo de iluminados estabelece os destinos do partido. Um verdadeiro erro crasso, uma vergonha nacional".
No Novo, mandatários e dirigentes são grupos distintos, já que políticos eleitos não podem ocupar cargos nos diretórios da sigla, como acontece em outros partidos (presidentes de PT e PSL, Gleisi Hoffmann e Luciano Bivar, por exemplo, são deputados federais). A postura em relação ao governo federal, no entanto, distanciou ainda mais as diferenças entre as alas. A bancada federal costuma apoiar os projetos de Bolsonaro, enquanto a cúpula do partido se posiciona pelo impeachment do presidente.
Apesar de já ter deixado a presidência e ser hoje apenas um filiado, Amoêdo se tornou uma das vozes mais incisivas dentro do Novo contra Bolsonaro. A atitude é compartilhada pelo diretório nacional, que se posicionou em julho e favor da abertura do processo de impeachment do presidente. A iniciativa incomodou a bancada federal e a ala menos crítica ao governo.
"Depois que se estabeleceu essa meta, a meu ver absurda, de transformar o Novo em um algoz sistemático do atual governo, e se transformar num arauto do impeachment do presidente da República, realmente ficou muito difícil entender o que quer esse partido e como ele funciona", declarou Lohbauer no anúncio da desfiliação.
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Procurado, Ribeiro não respondeu.
Amoêdo, por sua vez, disse ao GLOBO lamentar a saída de Lohbauer, mas ver como coerente e positiva a decisão do correligionário, já que existiam "tantas discordâncias". Para ele, a saída de pessoas que discordam da oposição a Bolsonaro são benéficas ao Novo, pois criam maior coesão interna.
"É fundamental haver alinhamento a um tema tão central hoje na política brasileira, que é o apoio ou não ao governo Bolsonaro. O partido ter majoriatriamente pessoas com essa visão facilitaria a unidade partidária", declarou Amoêdo.
Debandada
Lohbauer não está sozinho. O Novo passa por um esvaziamento do seu quadro de membros. Criado em 2015, o partido aumentou em cinco vezes o número de filiados entre 2016 e 2020, atingindo 48 mil em seu auge. Formou bancada no Congresso em 2018 e elegeu o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
Desde então, a legenda já perdeu quase um quarto desse número: 23% pediram desfiliação desde então. O número consolidado mais atual disponibilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) era de 36,7 mil, em maio.
Os dados são atualizados duas vezes por ano pela Justiça Eleitoral, em março e outubro, então no próximo mês será possível identificar se a tendência de queda se mantém ou não. Mas o movimento já provoca críticas duras da "ala bolsonarista", que vem questionando as decisões dos dirigentes.
No início deste ano, o diretório nacional atribuiu a queda no número de filiados à crise financeira causada pela pandemia. O partido cobra mensalidade de R$ 31.