BRASÍLIA — Documentos produzidos pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM) contradizem o depoimento do ex-ministro da pasta Eduardo Pazuello à CPI da Covid sobre a data em que foi alertado pelas autoridades amazonenses a respeito de problemas no abastecimento de oxigênio hospitalar. Pazuello diz que só foi informado sobre a falta de oxigênio nos hospitais do estado no dia 10 de janeiro, mas os ofícios aos quais O GLOBO teve acesso mostram que a pasta tinha sido informada no dia 7 de janeiro sobre os problemas no abastecimento de oxigênio no estado.
Pazuello foi questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre em que momento ele teria sido informado sobre o risco de desabastecimento de oxigênio em Manaus. Pazuello disse que só teria sido avisado no dia 10.
Pazuello foi novamente indagado, desta vez pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), que disse ter a informação de que, na realidade, o ex-ministro teria sido avisado no dia 7 de janeiro à noite pelo secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo.
Pazuello confirmou o diálogo , mas disse que “ele não falou nada de colapso de oxigênio”.
"No dia 7 à noite, ele não me falou nada de colapso de oxigênio. Foi a solicitação de transporte, a logística de Belém para Manaus, que foi feita no dia 8 e 10. Em momento algum... Ele faz isso na sua declaração... Olha só, isso está feito em depoimento", declarou Pazuello.
Um ofício produzido pela SES-AM, no entanto, contradiz a informação dada por Pazuello à CPI. O documento foi encaminhado como resposta a um questionamento feito pelo Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas, que investigou responsabilidade do governo federal no colapso do sistema de saúde no estado.
O ofício é assinado pelo secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo, que diz que ligou pessoalmente para Pazuello e o informou sobre problemas enfrentados pela fornecedora de oxigênio hospitalar White Martins.
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“Assim, na mesma noite do dia 07.01.2021, entramos em contato por meio de ligação telefônica com o Ministro da Saúde para comunicar quanto às dificuldades apresentadas pela empresa White Martins referente ao seu abastecimento, bem como noticiar de que essa teria cilindros para trazer de Belém-PA, sendo necessário auxílio para seu transporte. Desta forma, foi informado pelo Ministro que o Comando Conjunto estava à disposição desta Secretaria”, diz o ofício da SES-AM.
O outro documento que indica que o governo teria sido alertado no dia 7 de janeiro sobre problemas no abastecimento de oxigênio no estado é assinado pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde em resposta a um requerimento de informação feito pelo deputado federal José Ricardo (PT-AM). O ofício foi elaborado no dia 15 de março.
“Esclareço que, na noite de 7 de janeiro de 2021, este ministério tomou ciência de problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio na rede de saúde do Amazonas”, diz o ofício assinado pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco. O documento continua, agora na linha adotada por Pazuello, e diz que,na conversa, Marcellus Campêlo teria solicitado apoio para transportar cilindros de oxigênio de Belém para Manaus.
“Tratou-se de uma conversa informal entre o Secretário de Saúde do Amazonas e o Ministro da Saúde, naquela noite, por telefone, apenas e tão somente para solicitar apoio no transporte de 350 cilindros de oxigênio de Belém para Manaus.
O primeiro ofício faz parte do inquérito conduzido pelo MPF no Amazonas que, em abril, ingressou com uma ação civil pública por improbidade administrativa contra Pazuello e outros membros. Ele é acusado de supostas omissões durante o colapso do sistema de saúde no Amazonas, cujo pico ocorreu no dia 14 de janeiro, quando houve mortes por asfixia de pacientes com Covid-19 por conta do desabastecimento de oxigênio hospitalar.