Sob a mira de Bolsonaro, Braga Netto deve definir hoje o nome do novo comandante do Exército
Marcos Corrêa/PR
Sob a mira de Bolsonaro, Braga Netto deve definir hoje o nome do novo comandante do Exército

Favorito para comandar o Exército , o general Décio Schons tem uma reunião marcada com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, nesta quarta-feira (31). Schons é chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército e assumiu o posto de "mais cotado" após o general Marco Antônio Freire Gomes, atual Comandante Militar do Nordeste, ter sido desconsiderado na briga pelo fato de que teria que passar à frente de generais mais antigos, o que não é considerado um desrespeito a “hierarquia e disciplina” pelos militares.

O general quatro estrelas tem 48 anos de serviço e comandou por dois anos, de 2017 a 2019, a Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro. Integra hoje o Alto Comando do Exército, requisito para comandar a instituição, segundo a lei. Lotado em Campinas, Schons se dirigiu a Brasília para a reunião e deve ser transferido para a reserva, medida que demora 45 dias para ter efeito. Ainda assim, poderá assumir o posto de comandante por se tratar de uma indicação política do presidente da República.

Outros cotados

Além de Schons, Braga Netto vai receber outros candidatos aos postos de comando das Forças Armadas . Ainda sob o impacto das saídas de Azevedo e Silva e dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, oficiais-generais, em conversas reservadas, relataram que a troca promovida pelo presidente Jair Bolsonaro será em vão para conseguir apoio político nas Forças Armadas.  Eles afirmam que a crise gerou um consenso de que, sejam quais forem os escolhidos, as instituições serão blindadas, demarcando o limite entre governo e Estado.

A demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva , foi considerada por integrantes do Alto Comando do Exército uma "desconsideração" do presidente , principalmente porque não havia um motivo para a substituição, senão uma questão pessoal direcionada ao comandante do Exército, Edson Leal Pujol. O governo nega que as alterações busquem um alinhamento ao presdiente.

Um general da ativa, reservadamente, disse que militares não esperavam que o método de fritura usado por Bolsonaro para dispensar membros governo fosse aplicado também ao comando da Força. O presidente diversas vezes pediu a demissão de Pujol, que sempre tentou se distanciar dos vínculos com o governo.

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Em novembro do ano passado, o então comandante do Exército disse que “militares não querem fazer parte da política”, delimitando que o Exército é uma instituição de Estado e não de governo. Diante da tensão, o ministro da Defesa atuava para blindar o general e também acabou demitido por se colocar no caminho do presidente.

Consenso entre militares

Entre oficiais-generais que se reuniram ao longo de segunda e terça-feira, o consenso é que as “ Forças Armadas não vão produzir crise” e reforçam que nada mudará na postura das instituições, que se manterão distante do envolvimento político.  Oficiais evitam, no entanto, polemizar com a expressão “meu Exército” utilizado por Bolsonaro nas últimas semanas e dizem se tratar não de uma ameaça velada, mas um “carinho” de um militar da reserva.

"Alguns querem que eu decrete lockdown . Não vou decretar. E pode ter certeza de uma coisa: o meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa. O meu Exército, que é o Exército de vocês . Fiquem tranquilos no tocante a isso daí. Agora, vamos ver até onde o Brasil aguenta esse estado de coisas. Eu quero paz, tranquilidade, democracia, respeito às instituições. Mas alguns estão se excedendo", disse Bolsonaro a apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada, no dia 8 de março.

Nos últimos meses, Bolsonaro pressionou Azevedo para substituir Pujol , mas ouviu dele que não havia ninguém com o mesmo nível de antiguidade, experiência e qualificação para colocar em seu lugar. Por isso, agora, a perspectiva de escolha de um comandante do Exército que não está entre os mais experientes, como é o caso de Freire Gomes, é vista com maus olhos.

Na Marinha , deve assumir o Almirante Almir Garnier, hoje Secretário-Geral do Ministério da Defesa. No Alto Comando da Aeronáutica , há dez tenentes-brigadeiros. Entre eles, três são cotados para o comando, devido à antiguidade na carreira: Jeferson Domingues de Freitas, Carlos de Almeida Baptista Junior e Marcelo Kanitz Damasceno. Bolsonaro pode escolher qualquer integrante do Alto Comando, segundo a lei, mas a tradição é optar entre os que estão na Aeronáutica há mais tempo.

Único integrantes do governo a se manifestar sobre as mudanças, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse, em entrevista à CNN, que “nada muda” nas Forças Armadas.  "O ministro Braga Netto disse que nada muda nas Forças. Pelo contrário, as Forças têm um papel dentro da Constituição de hierarquia, disciplina e manter a paz", disse Faria, que negou que tenham ocorrido desentendimentos durante reunião entre o novo ministro e os comandantes das Forças.

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