O destino do chanceler Ernesto Araújo , ministro das Relações Exteriores do governo Jair Bolsonaro, pode começar a tomar novos rumos nesta segunda-feira (29) com a apresentação de um pedido de impeachment que deve ser entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) por um grupo de senadores.
Segundo informações do blog da jornalista Malu Gaspar, o documento, redigido por Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), aponta que Araújo cometeu crime de responsabilidade ao dificultar a importação de vacinas para combater a Covid-19. A análise pe motivada pela atitude do chanceler de hostilizar a China e divulgar mentiras sobre a real situação da pandemia.
Ainda de acordo com a publicação, Randolfe teria dito aos colegas que os ataques realizados pelo ministro "rebaixam o Senado" e que a continuidade do processo poderia abrir caminho para a criação da chamada "CPI da Covid". Nos bastidores, a queda é dada como certa e alguns nomes já são até ventilados como possíveis substitutos: na lista, aparecem o almirante Flávio Rocha - preferido de Bolsonaro - e o embaixador Nestor Foster.
Críticas de Pacheco e outros políticos
Na noite deste domingo, o presidente do Senado criticou a publicação feita por Araújo , na qual ele ataca Kátia Abreu (PP-TO) e sugere que a pressão do Congresso por sua demissão deve-se a interesses relativos à participação da empresa Huawei como fornecedora de equipamentos da tecnologia 5G e não à obtenção de vacinas. Pacheco afirmou ter externado na semana passada a avaliação do Congresso ao presidente Jair Bolsonaro de que a política externa brasileira está "capenga".
"Recebi com perplexidade, com indignação e uma certeza. A certeza de que enquanto há pessoas nessa pandemia imbuídas com o proposto de somar, há pessoas no entorno dele que visam constantemente desagregar. É o caso do ministro Ernesto. Há constantemente a necessidade de criar fatos políticos para sombrear ou estabelecer uma cortina de fumaça sobre coisas sérias que acontecem no Brasil (...) Recebemos esse ataque a senadora como um ataque a todo o Senado Federal", afirmou Pacheco , em entrevista à Globonews.
Ele negou que tenha feito um pedido de demissão do ministro a Bolsonaro . Pacheco disse que é papel do Congresso fiscalizar a atuação dos ministérios e que transmitiu ao presidente apenas a avaliação crítica dos parlamentares ao trabalho da diplomacia neste momento: "em relação ao ministro e ao ministério das Relações Exteriores, eu apontei ao presidente o que é o entendimento amplamente majoritário do Senado Federal, de que a política externa do Brasil não é boa, é uma política falha, capenga, que precisa ser corrigida a bem do nosso país".
Mais cedo, em suas redes sociais, o presidente do Senado tinha descrito a publicação do chanceler como um "desserviço" ao país: "a tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal .E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao país".
Outros parlamentares foram às redes sociais se solidarizar com Kátia Abreu. O presidente da CCJ, Davi Alcolumbre , afirmou que o ataque é um desrespeito ao Senado e um ato contra a tradição da diplomacia brasileira:"meu incondicional apoio à presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu. A insinuação irresponsável por parte de um ministro não é somente um desrespeito ao Senado Federal. É um ato contra todos que constroem a longa e honrosa tradição da diplomacia brasileira".
O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), lamentou a publicação do chanceler: "No momento em que há um grande esforço para a pacificação e o entendimento, lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso".
Em nota, a senadora Kátia Abreu reagiu dizendo que o Brasil "não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal", defendeu a demissão do ministro e afirmou que “é uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade".