Médico há 33 anos, o novo ministro da Saúde Marcelo Queiroga é cardiologista, manteve contato com o presidente Jair Bolsonaro ainda na época das eleições e tem bom trânsito entre políticos em Brasília. Ele chega ao governo com a missão de destravar a vacinação para a Covid-19, sem esquecer da importância da recuperação econômica. Atualmente, é presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que já se posicionou contra o uso de cloroquina no tratamento precoce de doentes com Covid-19, uma bandeira de Bolsonaro, e conselheiro titular do Conselho Regional de Medicina (CRM) da Paraíba.
Antes mesmo de ser cotado para o cargo, Queiroga já circulava pela Esplanada dos Ministérios — o que foi visto como uma vantagem do novo ministro. Em fevereiro, um dia após João Roma ser nomeado como ministro da Cidadania, Queiroga elogiou o novo integrante do governo no Twitter compartilhando um vídeo ao lado dele, quando Roma ainda era deputado.
Em outro vídeo , publicado na semana passada, Queiroga aparece ao lado do ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, que prometeu apoio para realizar o maior congresso de cardiologia do mundo no Brasil em 2022.
Defesa da vacina
Em janeiro, o novo ministro publicou um vídeo no qual aparece sendo vacinado. Queiroga escreveu que a vacina é um dever do Estado — tônica que ele deve imprimir à sua gestão."A vacina contra a COVID-19 é um direito de todos e dever do Estado brasileiro. O momento é de união para ampliar a cobertura vacinal e conter a pandemia", disse.
Em outra publicação no mesmo mês, Queiroga voltou a exaltar a vacinação:"Vacinas contra COVID-19 são a principal arma para vencermos a pandemia", disse citando ainda que cardiopatas têm prioridade na vacinação.
Queiroga foi indicado por Bolsonaro para ocupar o cargo de diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS), mas o processo está atrasado por conta da pandemia. Em carta enviada ao Senado para sua indicação à ANS, Queiroga afirma ser autor de 30 artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais."Acredito possuir experiência profissional, formação técnica adequada e afinidade intelectual e moral para o exercício da atividade proposta", argumentou.
Aproximação com Bolsonaro nas eleições
Antes da eleição de 2018, Queiroga se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro e com um de seus filhos, Flávio Bolsonaro (RJ). Após o primeiro turno eleitoral, o médico relembrou a reunião e escreveu em suas redes sociais que Bolsonaro é um "patriota, homem simples, espirituoso e acessível".
"Disse-me que em hipótese alguma cederia a 'chantagens' do parlamento: 'conheço bem os parlamentares e sei como obter o apoio para os projetos do governo'. Confesso que fiquei cético com essa afirmação, mas ao constatar que a determinação popular impôs uma contundente resposta a grande parte dos chamados caciques da política, não duvido mais que o que o capitão disse seja possível. Ele é um homem simples e preparou o café da manhã que tomamos", escreveu Queiroga na época.
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O médico paraibano afirmou, ainda, que Bolsonaro "conhece bem e tem apreço, e sobre as necessidades do Nordeste". Ele contou que o presidente garantiu que o governo "teria o suporte dos melhores técnicos".
"Sobre a classe médica e suas demandas, o Jair diz que sempre votou a favor da categoria e que frearia a abertura indiscriminada de escolas médicas e a importação ilegítima de 'médicos' cubanos. Enfim, um brasileiro de classe média, servidor público, com vontade de servir ao nosso povo."
Perfil pacificador
Em seu trânsito por Brasília, para tratar das pautas médicas, ele mantém contato com intenso com a bancada da Paraíba. Já frequentou audiências públicas na Câmara e no Senado sobre a área da saúde e até confraternizações com alguns parlamentares. Costumava visitar os gabinetes dos mais próximos, como Efraim Neto (DEM-PB) e Hugo Motta (MDB-PB).De acordo com o deputado Pedro Cunha Lima (PSBD-PB), conterrâneo de Queiroga, o médico tem um perfil "pacificador".
"Com certeza teve simpatia da classe política, ele é muito bem relacionado com boa parte dos políticos", disse, acrescentando ainda que pelo que conhece do novo ministro, Queiroga deve ter "sensibilidade econômica" na condução do combate à pandemia .
Durante o governo do ex-presidente Michel Temer, Queiroga teve alguns encontros com o então ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR). Após uma conversa entre eles, em dezembro de 2017, ele escreveu que "os parlamentares paraibanos do PP têm sido muito solícitos nas pautas em favor da cardiologia brasileira".
Críticas a Gilmar Mendes
Em julho de 2020, Queiroga se manifestou contra declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de que o Exército estava se associando ao genocídio. Na ocasião, o médico chamou as falas de "infundadas"."Tive a honra de ser recebido pelo excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa, General Fernando Azevedo, quando tratamos de assuntos do interesse nacional, em particular na área da saúde. Trata-se de um homem de grande espírito público, um patriota na acepção da palavra, sendo oportuno externar nossa discordância em relação às declarações infundadas do Ministro Gilmar Mendes, fora dos autos, onde os juízes somente deveriam se manifestar, acusando o Exército do Brasil de estar se associando a genocídio. Vivemos tempos muito estranhos", declarou.